quarta-feira, 30 de junho de 2010

Foco, baby, foco!!!

Segue minha versão da cena (já clássica) do filme sexto sentido:
- Eu escrevo projetos...
- Com que freqüência?
- Todo o tempo...
Pois é, amores e amoras, posso parecer uma vagabunda hardcore (Oh! Sonhos!) mas a realidade é dura e cruel e eu chupo halls, então o telefone toca às sete (duas horas depois de quando eu consegui conciliar o sono) e:
- O dinheiro do FIC (vá pesquisar no Google!) saiu!- Diz a amiga-chefe-mestra.
- Cuma?- Pergunta uma eu ainda entretida com Morfs (Morfeu para quem é fino!)
- Vemtimbora, temos que adaptar o texto e... (complete com uma extensa lista de coisas a se fazer).
Ok, baby. Entro num chuveiro gelado, amaldiçoando essa merda de estação deprimente e bom, aqui estou numa versão coelhinho da páscoa (de olhos vermelhos) e tentando manter o foco.
Mas feliz feito pinto no lixo, como fico toda vez que começo uma empreitada dessas e também conformada de que, a partir de agora, virarei empregada até da mulher que providenciará cafezinhos. E vou morrer de raiva e vou rir horrores e vou me descabelar e vou perder horas de sono e vou ser confundida com a faxineira por algum palestrante ou oficineiro (trabalho com artistas, my friend, que sou luxo e poder!) ou então como sempre, tudo será uma surpresa atrás da outra. Delícia cremosa!
Então, bom dia, flores do dia. Vamos em frente que atrás vem gente!E o recesso da Casa do ensino das Artes acaba amanhã de manhã (servirei um café para nós dois?). Jesus salva!

Medida do Bonfim

"Mas acho que amor não é cursinho pré-vestibular. Ninguém encontra seu nome no listão dos aprovados. A gente só fica assim. Parado olhando a medida do Bonfim no pulso esquerdo, lado do coração e pensando, pois é, vejam só, não me valeu."
(“Para sempre teu, Caio F.”, de Paula Dip)

Porque sim.

Coisas bestinhas

Descobri que nós dois preparamos do mesmo jeito o Miojo. Isso foi quase uma revelação, eu não estava mais só no mundo, afinal de contas.
Mas tem outras coisas que de tão bestinhas, se acumulam para dar vontade (de)mais.
Gosto quando você sorri e logo depois assume um ar sério, como se quisesse falar alguma coisa que nem sabes mais onde escondeste dentro de ti. Ou quando parece que algum olhar de carinho quase rasga sua fantasia de vilão. No entanto também gosto quando as usa. As fantasias todas.
Me faz um bem estranho acreditar que talvez chegues mesmo essa noite, num dos meus sonhos. Espectro do meu desejo. Me surpreendo sorrindo sozinha quando lembro das cores e desenhos nos teus braços.
Quase todos os dias me tiras o sono e de uns dias para cá tem me feito elaborar planejamentos à médio prazo, logo eu que nem sei o que vou comer no café-da-manhã.
Me encanta a facilidade com que desenrolas os nós dos meus dramas cotidianos, assim com uma letra só.
Agradeço a chance de poder te dizer hoje para ficares bem. Pode ter certeza, é bem menos do que mereces.
E não, eu não estou apaixonada por você. Ainda.

terça-feira, 29 de junho de 2010

4 x 3 para você.

Eu contei que tinha perdido o celular? Pois é, não foi bem perder... perder... tava com a amiga, que o resgatou do esquecimento numa mesa de bar. Eu tive meus motivos. Enfim...
Fui pegar o tal celular fazendo uma linha bem deprimida e chorante, porque o felodaputadoimbecilviadodoexmarido não tinha depositado meu dinheiro, que tinha que estar na minha conta desde o dia vinte. Mas era jogo do Brasil, amores, e eu toda trabalhada na humildade peço 10 royal a amiga, pego o celular e vou bem ao estilo órfã enlouquecida para a casa de uma pessoa sem ser convidada. Saibam disso, eu invado festas na cara dura.
Mas sentem-se porque a história começa antes.
15:12- Ainda nem tinha feito a linha penetra quando o menino abusado liga e pergunta onde vou assistir o jogo. Eu, muito fina, invado festas, mas não levo acompanhante que aí é foda, desconversei e disse que ligava depois.
Brasil ganhou de três a zero e eu na cerveja. Acaba o jogo e eu na cerveja. Enfim, cerveja. Fico no ponto, tanto que sugiro ”Esboço para uma teoria das emoções” de Sartre como referência para uma tese acerca de realitys shows só para fazer a linha “sou linda, mas sou inteligente.”. Não me perguntem qual, mas na hora fez-me muito sentido a indicação. Continuo passando vergonha ao fazer propaganda destas besteiradas que aqui escrevo (as suas também, viu mocinha, não ria não) para todos. Enfim, vergonha total. Mas eu não me satisfaço com pouco.
20:07- Liga menino abusado abusando novamente. Digo que vou para o bar tal e para lá me encaminho acompanhada dos amigos de infância que conheci na festa. Não sei se foi antes ou depois deles irem embora que levei uma queda vergonhosa. Ou se foi antes ou depois do amigo amado declarar seu amor a humanidade e beijar todo mundo.
00:20- Menino abusado diz que está chegando. Eu bem na linha tô beba, mas sou do bem, espero confiante.
Tú foi? Nem ele.
00:43- Eu ligo e o imbecil não atende.
00:54- Eu ligo e imbecil, idiota, babaca e palhaço não atende.
Me encaminho para o pé-sujo amado de final da noite com outra galera e como Brasileiro nunca desiste...
01:17- Eu ligo e imbecil, idiota, babaca, palhaço, otário e burro não atende.
01:25- O %#%$#%$#%$%¨%¨%¨&*¨&**&*& continua sem atender.
Agora vejam como o inferno é cheio de cão. Para que esse imbecil me fez a linha telefonante antes se não ia dar as caras? E acaso, o palhaço parou para pensar que eu poderia acabar com algum possível outro espécime em minha cama, caso ele não estivesse em vias de surgir? Desconfia esse ser que ele merece a morte lenta e dolorosa dos desleais?
Diz a amiga que ele é mimado e deve ficar assustado com minha pessoa. Que é menino. Eu também não dei muita bola, admito, mas só vou acreditar para assoprar meu orgulho seriamente arranhado com os fatos acima descritos. E porque eu estou com preguiça de pensar sobre isso.
Ah, mas eu até que tentei me dar bem virtualmente, mas ninguém me quis. Soube que insultei um amigo porque ele não me quis nua ou algo do genêro. Mas Escarlet, a sábia é, que tem razão: -penso nisso amanhã.
Esposa, um ultimo apelo: Traga fotos. Eu preciso de fotos.
E como assim, ninguém me contou que já estava disponível para download o terceiro episódio da terceira temporada de True Blood?

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Antropofagia

Acho graça nas coincidências. Morro de rir para não chorar. Conversando com aquela que flana, falei que meu próximo post seria acerca das idéias que constroem a respeito desta que vos escreve. Eu as persigo como um cachorro atrás do próprio rabo. Quando canso, vou roer, pouquinha e acabrunhada, o osso da verdade acerca de mim. Aquela escondida depois das tantas outras. A que só eu sei. E não conto fácil.
Eu me construí artista, principalmente porque a minha versão como musa não deu lá muito certo. Eu queria. Tentei de verdade. Fiquei muito tempo brincando de pousar para muitos, até que resolvi fazer algo a respeito destas visões distorcidas, nas quais eu não me reconhecia.
Então é isso, amiga. É para isso que escrevo, é por isso que pinto, costuro e bordo. Para que cessem todas essas vozes que me contam, nem que seja por alguns poucos minutos.
Para que de alguma forma, eu consiga gritar além dos risos que ecoam quando conto minhas piadas, dos olhares que me inventam quando me fantasio com decotes e saias curtas. Escrevo para me sobrepor às idéias pré-concebidas, que tentam me matar cada vez que me apresento distinta do que desejam.
Paro para escrever este post anunciado. Antes, porém, faço algumas visitas.
Um poeta que gosto, por pura invenção minha, se apropriou (também hoje) de um texto de Quintana que trata exatamente disto. Porque o amor inventado surge da invenção do objeto deste, não é mesmo?
Ela também falou sobre isto de alguma forma. Ah, as entrelinhas e as verdades...
Bom, tenho andado por esses dias bem apaixonada por um cara lá das bandas de longe. Eu o inventei e ele a mim. Foi essa porra de invenção que me impediu de dormir de conchinha ontem com carnes e ossos. Que me fez entristecer com as camisinhas espalhadas pelo quarto quando acordei sozinha pela manhã. Que me exaure porque corresponder a tanto é muito. Eu não consigo. Nunca o quis. Mas quero, quero, quero...
Porque essa idéia de mim é tão sedutora que tal qual Narciso, a paixão no fundo, é pela minha própria imagem refletida em suas mensagens diárias.
Escrevo porque a história é sempre outra. Nunca a mesma.
- Decifra-te ou me devoro.

domingo, 27 de junho de 2010

É só chamar

Então.../Se você quiser alguma coisa /E só chamar, chamar/ Eu irei correndo/Lutar/ E estarei à sua porta /Quando não houver nada/ Pelo qual valha a pena correr/
Quando você está decidida/ Quando você está decidida/Não adianta tentar mudar
Sabe /Você é como todo mundo/ Quando acontece algo ruim /Só o que você quer é ir embora
Correndo/ E ficar escondida sozinha
E você está tão longe de mim /E não há mais nada
Quando você está decidida /Quando você está decidida /Não adianta nem tentar conversar

Não sou de comentar sobre filmes, principalmente sobre os que amo. Mas hoje eu tenho que fazê-lo e como ele (o filme em questão) se entranha em mim como música de fundo enquanto escrevo, sinto-me simplesmente autorizada. Simples?
Once. Apenas uma vez.
A chamada de capa é “Com que freqüência você encontra a pessoa certa?”. Estrangeiros dentro de sí mesmos se esbarram. E compõe. E cantam juntos. E se amam. Não há um só beijo no filme inteiro. E não, eles não ficarão juntos.
Toda a história é contada através das músicas, e no entanto, também existem os olhares e os silêncios que fazem doer a alma. Não existem "atores" no filme. Todos são músicos que como o titulo diz, se arriscaram “apenas uma vez” no cinema.
A música deste filme ganhou o Oscar em 2008. “A canção é marcante e mostra como é possível se apaixonar aos poucos, lentamente, sem nem se dar conta disso – combinando bastante com a história de “Once””.
Eu recomendo que a escutem. Vai a tradução da letra.
E quem não é bobo que me entenda. Ele é simplesmente o homem que devia ter estado comigo hoje. Eu eu não o teria mandado embora.

Outros olhos

Eu não te conheço
Mas te quero
Ainda mais por causa disso.
O significado das palavras me escapa
E ela sempre me enganam
E eu não consigo reagir.
E jogos que nunca são mais do que jogos
Vão chegar ao fim

Pegue este barco que está afundando
e tome o rumo de casa
Nós ainda temos tempo

Levante sua voz esperançosa,
você teve escolha
E você a fez agora
Se apaixonando lentamente, olhos que me conhecem
E eu não posso voltar atrás

Estados de espírito que se apoderam de mim
e me anulam
E eu fico deprimido

Bom, você já sofreu o bastante
E lutou consigo mesma
Está na hora de você vencer
Pegue este barco que está afundando
e tome o rumo de casa
Nós ainda temos tempo
Levante sua voz esperançosa,
você teve escolha
E você a fez agora
Se apaixonando lentamente, cante sua melodia
Eu cantarei junto

sábado, 26 de junho de 2010

Lista das mulheres que gostaria que fossem minhas irmãs...e dos homens que Deus nunca permita tal coisa II

Em Paris Henry Miller, amante blasfemo e Anaïs Nin, a irmã que me descreve incansavelmente na frente de espelhos, apresentam-me os prazeres e os terrores da Paris que acorda quando anoitece.
Um dia, canso das noites sem fim, e numa ressaca braba, vou ao encontro de Amélie Poulin. Em vermelhos e verdes, minha irmã amada, apesar de filha única, devagar me enche de poesia e enfia minhas mãos em sacos com grãos. Texturas. Reaprendo o olhar. Viajo com os anões.
Demorada estadia na casa das duas Clarices, a Linspector e a Pinkola Éstes, eu,cercada de feminino e do mistério. Até que me aparece Chico Buarque, com um recado do Tom, meu primeiro amor. Eu, Luíza, sinto derreter a neve que soterrara meu coração quando me enxergo em seus claros olhos.
Ah, que homem aquele! Me deixa carregar o vento, peço. Meu sangue erra de veia e se perde em tanto amor. Mas o amor não é um ócio, o amor não é um vício, o amor é sacrifício, o amor é sacerdócio. Começo a todo dia fazer sempre igual e me acordo ás seis horas da manhã. Como hei de partir? Porque com o Tom, eu já conhecera os passos desta estrada, sabia que não daria em nada, e quando Chico me assusta contando um sonho medonho que teve comigo, eu resolvo fazer um programa feminino. Marco um cinema com Fernanda Torres, porque sei que riremos muito. E não há nada melhor...
Indo ao seu encontro, me deparo com uma batida policial, um anjo da lei me passa suas jovens mãos. Oh, Jonhy Deep, me apaixono perdidamente durante aquela revista. Mas o cara tem uma certa tendência a multiplicidade de personas. Adoro sua fase de cigano, seu pirata me excita. Mas também resolvo dar um basta quando ele passa a andar dentro de nossa casa com cabelos vermelhos e a fabricar chapéus.
Vou terminar por aqui porque tenho um encontro marcado ás sete. O nome do cara é Wagner Moura. Acho que dessa vez vai dar certo. Vai ser para sempre. Depois deste, como diz minha irmã mais velha, Scarlet O’Hara: - Nunca mais passarei fome!

Amém.

Morte necessária

Sabe, não é ciúme. É como Martha já escreveu. O vestido fica melhor nela. Isso é foda! Porque o vestido está velhinho e muitas amigas já pegaram emprestado antes (intervalo para gargalhadas), mas custou caro e você ficava tão bem nele há seis quilos atrás.
Você perdeu muitas noites de sono, muita poesia foi derramada à custa de .
Hoje as músicas vão atrás da amiga amada.
Solidão é um prato que dá indigestão. Não me obriguem a comer.
Então eu quero ir para Jundiaí e usar alargador. Eu quero fazer sexo tântrico em São Paulo. Eu quero que alguém me traga caju num Sábado próximo.
Ai, amiga. Estou precisando tanto morrer de amor.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Quatro

Bebo que se preze, sempre afirma não estar bebo. E faz um quatro guenzo, equilibrando-se num pé só, para provar. O quatro guenzo das virtualidades da vida consiste em conseguir digitar qualquer palavra com mais de quatro letras. Se você aceitar o meu humilde conselho, não tente nenhuma das coisas. Nunca. Mas você vai ficar bebo e o fará. Teimoso!
Ontem eu fui uma beba que se preza. Na rua, sambando em rodas interessantes, e nas virtualidades da vida. Ah, e usando o celular claro, a mais poderosa arma nas mãos dos ébrios. Eu, como uma beba que se preza sempre atiro no próprio pé.

Acordei pensando nisso.

Antes do advento das conversas on-line, podíamos nos considerar mais ou menos em segurança quando chegávamos em casa. O máximo que poderia acontecer era acordar abraçada à privada. Mas o inferno é cheio de cão, meus queridos. Então hoje, além de ter que reconstituir todas as merdas que você fez ao tropeçar por sua cidade, temos também que lembrar o que e com quem conversamos no msn. Creia-me, aumentou e muito o trabalho de puxar pela memória e a ressaca psicológica do dia seguinte.
O que eu sei é que sei muito pouco.

Da real: Eu tenho quase certeza que o nome do cara era Mauro, é esse o nome que digitei na agenda do celular quando ele me ligou quatro ou cinco da matina me chamando para ir ao cinema. Então tá, deve ser. Ou não. Ele não ligou mais e aposto que não deve ter certeza do meu nome também. Mas Mauro, o suposto, era o homem da minha vida ontem. Eu queria casar e ter cinco filhos com ele. Tudo porque não consegui o que queria com o pandeirista delícia da roda de samba (era mesmo um pandeiro?). E com o Recifense que era casado com a menina da carona, que estava com o casal de lésbicas, que fizeram o favor de passar em Nazaré, antes de me deixar em casa, onde eu comprei duas cervejas e meia carteira de cigarro.

Do virtual: T. e L. on-line. Eu me lamento. Eu amo Mauro para sempre. Ameaço me matar. Trocamos músicas, eu acho. L. é uma amiga ruim e me deixa á sós com T. Eu acho que ensaiei um strip na frente da cam. Acho. Tinha uma cerveja que cantava. E eu dormi na frente da cam. E acordei com um telefonema do amigo do menino abusado. E chamo T. novamente que me manda à merda e vai dormir.

Então agora minha companhia além da vergonha é uma garrafa de água. E eu nunca mais bebo, vou mudar de cidade e nunca mais entro no MSN.
Alguém acredita em mim?

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Lista das mulheres que gostaria que fossem minhas irmãs...e dos homens que Deus nunca permita tal coisa I

Essa “lista” foi uma idéia da borboleta mais amada desse mundo, que por sua vez se inspirou neste blog (que adotei a partir de hoje como indispensável na minha vida).
Comentando sobre sua linda coletânea de combustíveis para sonhos, afirmei convicta, que minhas “irmãs” seriam literárias enquanto meus “homens”, cinematográficos. Bom, quase nunca acredito no que digo. Então desconstruo essa primeira afirmação limitante, para que meus devaneios por si só, façam desabrochar os sentidos.
Comecemos, pois...
Minha irmã, a caçula mimada, seria a “Menina com um flor”. Linda e amada eternamente, com um ar recuado e gostando do doce feito com leite condensado. Vínicius, cunhado bonachão, providencial bebedor de uísque, já no fim de uma noite perfeita, me apresenta, na grande festa que compareci vestindo azul, à meu primeiro grande amor.
É Tom, no auge de sua beleza e bossa. Com ele perderia a virgindade (licença poética, ora pois!), os sentidos e a cabeça, enquanto isso, fazedor de mim, ele escreveria lindas músicas sobre passarinhos que cantam enquanto eu, sua amada musa dormiria o sono dos amantes.
Acordaria com Caio F. Abreu, que não é irmã, mas vale tanto quanto, a me dizer que eu seguisse o caminho que tivesse mais coração.
Sigo seus conselhos sábios regado à desespero, irmão maldito, e noite após noite procuramos algo que se desvanece quando chega-se mais perto. Um dia, enquanto esperamos que os morangos mofem, Janis Joplin, a irmã deserdada, nos faz uma visita.
Com ela vem Jim.
Morrison passa a me amar e eu a amá-lo. Muito. Enquanto o fogo arde, ele se torna mais filho que amante, e a morte por fim chega para ambos. No cemitério do Père-Lachaise, encontro minha irmã mais velha.
Piaf.
Ela me apresenta a Yves Montand, ele o homem, eu a mulher. Uma única noite com a dimensão de toda uma vida.
Piaf canta.
Paris é uma festa?
(Continua...)

Olha pro céu, meu amor...*

Gripe. Corpo mole e cama o dia inteiro. Já escuro, entendo finalmente que terei que dar conta sozinha da minha necessidade de uma hora ter que comer e de um bom anti-gripal. Bom, geladeira vazia, não tenho armarinho de remédios, carteira tilintando apenas moedas vãs. Então, arrasto então meu corpinho febril para debaixo do chuveiro, e um pouco, apenas um pouco menos zumbi, encaro os degraus do meu prédio rumo ao caixa eletrônico.
O barulho dos fogos enquanto eu me ensaboava devia ter me alertado. Ou então o telefonema para a amiga que me disse estar indo para Campina Grande. Mas talvez porque estou doente, talvez porque resolvi não me programar, talvez porque afinal de contas eu esteja mesmo enlouquecendo aos poucos, eu tinha realmente conseguido abstrair do fato. É véspera de São João, baby!
Para quem não é do Nordeste, é difícil descrever como as cidades (principalmente a que moro) ficam nesse dia do ano. Reveillon perde longe, pode crer. Eu andando até o shopping do meu bairro e á medida que passava pelas ruas, fogueiras eram acesas. Um negócio surreal quando somado aos pulos que eu dava cada vez que alguém soltava uma bombinha.
Mas fica pior. Chego ao meu destino e adivinha? Shopping fechado. Claro que sim, quem afinal iria pular aquelas fogueiras todas senão os funcionários das lojas de roupa feminina, masculina e sapatarias? Merda. No Money, lindinha.
Resolvo voltar pelo caminho menos perigoso (a rua principal do meu bairro), o que evitaria encarar o inferno de Dante que enfrentei ao escolher as ruas, digamos, mais família. Ou alguém seria louco de acender uma fogueira em frente a uma parada de ônibus? Torci que não.
Ví pessoas numa padaria discutindo pela última canjica enquanto rumava para o Carrefour, afinal de contas, pensei, em termos de exploração de funcionários, sempre podemos contar com as grandes redes de supermercados, não é mesmo? Batata! Estava aberto e operante. O Carrefour, mas não o banco 24 horas. No Money again, lindinha.
Resolvo me conformar com meu triste destino. Paro na barraquinha perto de casa, viro a carteira e as moedas se espalham no balcão. Conversa interessante com Dona L. enquanto contávamos minha fortuna. R$ 7, 35. Comprei cigarro e duas cervejas. Ouxe, você se perguntará, ela não estava doente? E vai fumar? E beber?
Amor, podes crer que a fumaça do meu pobre cigarrinho, nada será perto da que toma conta dos céus do meu bairro. É quase uma Gramado ou Campos de Jordão em pleno Inverno no Sul. Cerração total. No meu apartamento, pode-se nesse momento defumar vários embutidos, é só trazer. Ou seja, se estava doente hoje, amanhã estarei bem pior. E as duas cervejas também são artigos de primeira necessidade para acalmar meus nervos que serão abalados por fogos, muitos, muitos fogos, madrugada adentro.
Quer morrer baby? Tá cansada(o) da sua vida horrível e sem sentido? Se você tem alergia, rinite, está gripada(o) ou tem problemas cardíacos (lembre-se dos fogos!), vem para o Nordeste na véspera de São João, você acordará dia 24 no céu ou no inferno (sei lá como foi tua vida) e tua família ainda fica com o dinheiro do seguro, já que não foi, digamos, um suicídio em termos literais.

* O titulo deste post é uma homenagem à amiga. É a primeira frase de uma música que é a cara do São João aqui no Nordeste e que ela lembra de ter tocado ao longe, na cidade que nasceu e ainda morava (o maior São João do mundo), enquanto ela estava na parada de ônibus, logo depois de ter saído do cinema, onde se deparara com o amor da sua vida (na época) com outra mulher. Pois é, essa também pode ser uma música triste.

Pegava

Bom, o negócio é o seguinte. Sei que pode não soar politicamente correto, mas acho graça mesmo em alguns sites como este aqui. Esse tipo de site (ou blogs ou sei lá mais o que) é normalmente escrito por um homem entre vinte e cinco/ vinte e nove anos de idade (nunca acima disto), que estão no auge da vida sexual, das farras e da fama na Internet (e claro se aproveitam de ambas as coisas), abusam do humor sórdido e são muitas vezes escancaradamente machistas.
Gosto deles, admito, principalmente porque dizem algumas verdades que deveriam me parecer óbvias (tão experiente que penso ser), mas não, ainda não o são. Para mulheres em geral (e me enquadro aqui) não existe nada mais complicado que a simplicidade masculina. Claro que não estou colocando todos os homens no mesmo saco, não é isso. Mas se despirmos nossos companheiros, amigos, paixões, ficantes, amantes, da fantasia de delicadeza que nós mesmos por vezes, os obrigamos a vestir, veremos que no fundo, todos acabam por se parecer no que concerne a um assunto. Nós, mulheres.
É engraçado também me colocar no papel da palhaça louca vez ou outra. Porque convenhamos, muitas das histórias que conto aqui, se escritas pela ótica dos caras que são seus protagonistas (e coincidentemente pelo menos no que diz respeito à idade, se enquadram no perfil dos caras que escrevem nesses sites) seriam completamente diferentes. Por exemplo, lembram dos caras meus amigos que quando chegaram uma noite aqui em casa, me deixaram em pânico romântico? Pânico este resolvido num texto/desabafo/drama mexicano em que eu citei Caio F. Abreu, claro (mais mulherzinha impossível)? Eles provavelmente deviam estar pensando: - Oba, já deu pros dois, quem será que vai pegar hoje?
Pois é, amigas, simples assim.
Acho engraçado também imaginar que um texto bêbado e cheio de entrelinhas que escrevo possa despertar o seguinte pensamento num homem: - Eu, hein, a mulher tá desesperada.
Acho mesmo.
Então me perdoem, mas apesar do fato de zoar de minha pessoa enquanto espécie, e descrever mulheres como eu, com pouco afeto, ele foi para os meus preferidos.
E sim, provavelmente não faço o tipo de um cara como aquele (estes), mas eu o pegava lindamente (coisa de mulher baixa, essa última colocação, não?).
Enfim...

terça-feira, 22 de junho de 2010

Msn

S. diz:
Tá tudo bem contigo?
C. diz:
Tá sim. o inverno chegou. e tu?
S. diz:
Tô meio de banzo. em casa. sozinha.
bah!
tu n tem nenhum amigo mais velho para me apresentar n?
C. diz:
auhauaaa
Bichinha!
ainda nao fui visita-la neh
Só conheco boyzinho msm
S. diz:
saco
olhe, sei n. o mundo é muito complicado.
qt a sua visita já desisti de esperá-la. rs.
C. diz:
o mundo é um moinho
huahuaua
pois é eu prometo demais e nao cumpro
meu defeito
S. diz:
e ainda vem com uma música que o cara canta pra mulher que o deixou dizendo que ela vai se lascar.
Amigão, vc né?
"reduzir as ilusões à pó" é f.

As amizades e o suvaco

Bom, a esposa tá viajando no sábado, mas meio que já foi. Só nos vemos rapidamente, porque ela está vivenciando a expectativa e os preparativos da sua ida, lá pelas bandas da casa do amado amante. Do outro lado da cidade. Ontem, chegou á noite, apressada, pegou umas roupas e guardou os livros no quarto, porque dia desses, um gatuno conhecido que desconhecemos adentrou nosso sacrossanto lar e levou um dos seus amores literários. E ela é ciumenta com suas coisas. E com seus amores.
Fiquei assim meio desfalcada, tristinha e cabisbaixa, quase um mulambo, sem as lembranças dela na nossa enorme estante compartilhada. Sóbria, de camisola furada, escrevi um e-mail sem sentido para uma pessoa que nem se importa com a minha e depois de enviá-lo, decidi que definitivamente o fundo do poço havia chegado.
Mas aí quando eu fui dormir notei que a sujeita, felina que é, tinha deixado a luminária linda de viver no meu quarto. Mimosa.
Eu já disse que ela é ciumenta com as coisas dela?
Bom, mesmo assim...
Estou eu hoje, ainda só, ainda abandonada, ainda de camisola furada, lambendo minhas feridas na forma de hibernação seguida de leituras dos meus amores e amoras virtuais, e sou abandonada também por outra amiga, que resolve me trocar por uns retoques na raiz e umas mechas capilares. Traidora! Mas eu sei que ela me ama, eu sei. Não é fácil ser blond, sabecumoéqueé, né?
Então finalmente, outra amiga que não conheço pessoalmente, mas também é assim, uma Brastemp, me oferece um consolo que nem ela sabe o quão me deixou pipocante e saltitante e redundante. Luxo, glamour e poder são meus sobrenomes agora.
E então penso no poder das amizades de serem assim, tão, tão, tão. Tão. E penso que eu nem as mereço, sabe? Que o divino foi muito bom comigo em colocar essas amoras lindas na minha vida. Então por vocês, amigas amadas, assassinarei o odor que meu suvaco exala (Namorado, tô exagerando, viu? Eu sou limpinha!) e tomarei um banho.
Bye,bye, tristeza não precisa voltar...

Embaço


Eu, esposa e amigo querido. Porque quem for míope que me siga. Os bons. Vêem o que basta. Amor.
Ponto.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Carona

Tem muitas vezes na minha vida que acredito piamente que o divino até salva, mas deixa para o último momento porque é mais divertido. Hoje foi um exemplo. Pego carona com a nova responsável pelos projetos no meu trabalho rumo á nossa confraternização. Amigos em comum, risadas até doer a barriga. Éramos as responsáveis pelos comes e bebes. Muitas, muitas gargalhadas mesmo (MESMO!) na nossa odisséia rumo á satisfação gastronômica dos nossos.
E uma amizade para sempre em dez segundos. E era ela novamente. Há sete anos atrás era a namorada do cara do último post, a minha nova amiga de infância nas últimas cinco horas. Num jantar dia desses a pessoa que mais conversei. Então são essas as linhas tortas? Ela me deixa em casa e sorri.
É isso! Cala a boca, Galvão.

Na fila do pão


Imagem de Shiko

Quando eu o conheci ele não me pareceu interessante. Sempre me questiono em que momento aquele homem passou a significar tudo. Eu vivia em estado de vigília e de prontidão. Para mudar o mundo se ele assim o quisesse. Para tirar a roupa e me fantasiar de sua invenção feliz.
Ninguém entendia o porque desse homem na minha vida e no meu coração. Mas eu o sabia. E isso bastou por algum tempo.
Como explicar que as noites eram perfeitas e os dias eram postos para fora daquele quarto cheio de livros e de tubos de tinta e pincéis? Que eu nunca fui tão eu mesma com alguém?
Era um amor em cores berrantes. Eu estacionava meu carro vermelho na frente da casa de janelas verdes dele e o paraíso era feito desses contrastes.
No entanto, aos poucos, eu comecei a notar que nossa história era uma invenção apenas minha. Triste assim.
Foi esse homem que encontrei ontem. E nunca é indolor encarar nossas ilusões de plenitude destruídas e espalhadas num chão qualquer.
Não posso negar que ele foi simpático. Ele sempre é.
Como ele consegue depois de ter sido o único homem que me viu completamente despida de mentiras?

E a música era essa:

Último Romance
Los Hermanos

Eu encontrei quando não quis
Mais procurar o meu amor
E quanto levou foi pr'eu merecer
Antes um mês e eu já não sei
E até quem me vê lendo o jornal
Na fila do pão, sabe que eu te encontrei
E ninguém dirá que é tarde demais
Que é tão diferente assim
Do nosso amor a gente é que sabe, pequena
Ah vai!
Me diz o que é o sufoco que eu te mostro alguém
A fim de te acompanhar
E se o caso for de ir à praia eu levo essa casa numa sacola
Eu encontrei e quis duvidar
Tanto clichê deve não ser
Você me falou pr'eu não me preocupar
Ter fé e ver coragem no amor
E só de te ver eu penso em trocar
A minha TV num jeito de te levar
A qualquer lugar que você queira
E ir onde o vento for
Que pra nós dois
Sair de casa já é se aventurar
Ah vai, me diz o que é o sossego
Que eu te mostro alguém afim de te acompanhar
E se o tempo for te levar
Eu sigo essa hora e pego carona pra te acompanhar

A vida não para

Daqui a pouco tem prova. E outra. Depois reunião no trabalho, seguida da confraternização de São João (ó povo pra gostar de festa!). Tem uma pilha de roupa suja para lavar. E louça. O aluguel vence hoje. A conta bancária está negativa.
Preciso começar uma dieta, voltar para a yoga, parar de beber. Ter filhos, cachorro e marido. Cercas brancas e uma horta orgânica. Reciclar meu lixo, fazer trabalho voluntário.
E eu acordei sem querer, uma vontade louca de ficar na cama, mentindo para mãe que estou doente para que ela me libere de ir para a escola. Mas a escola acabou, a mãe está não mora mais aqui e eu preciso do emprego e do diploma. E de grana. E de mais tempo.
Me pergunto porque eu achava tão bonito ser gente grande.

Solidão

Aí eu resolvo reagir. Liguei para uma amiga e marcamos. Vimos o jogo num bar cheio de gente. Azaro um cara, tava acompanhado e enamorado da minha segunda opção de cara para azarar em nossa gigante mesa. Ok, baby, sejam felizes.
Acaba o jogo, todo mundo de ressaca de ontem e eu a fim de bossa. Ligo e acabo numa festa cool com o amigo querido. Dançamos e o amor da minha vida de uns tempos atrás está lá. Susto. Desisto de zenzualizar no samba e saio correndo no meio da dança. Porque esta história tinha roído minha alma e eu tinha medo de mostrar a todos meu coração roto. O amigo querido vai comigo. Sanduiches e histórias depois num bar perto de casa. Eu tento trazer ele (o amigo querido) para minha casa e para minha cama. Ele é meu amigo e não aceita. E eu não presto. Deus castiga. Chego em casa, procuro e porra! perdi meu celular. Saio andando sem calcular riscos até o último lugar que estive. Nada. Volto para casa.
Então a solidão é isso?

domingo, 20 de junho de 2010

Melancolia

Fui dormir quase de manhã agarrada com um livro. Acordei tarde e bom, depois de declarar ontem meus planos de torcer enlouquecidamente pelo Brasil no jogo de hoje, nos comments de um blog que amo, me pego sem realmente saber se quero fazê-lo. Talvez nem veja o jogo.
Meu horóscopo diz que hoje, caso me sinta melancólica, é porque não estou vivendo de acordo com meus ideais mais profundos.O tal horóscopo me ajudou a achar a palavra, apenas. Melancolia, é isso.
Mas tem saudade também.
Ponto.

sábado, 19 de junho de 2010

Desatando nós.

Quem me conhece sabe. Sou dramática. Quase uma Maria do bairro. Mexicana. Argentina dançando tango com rosa entre os dentes e lápis borrado no olho. Complicada. Insana, até. Mas sei quando chega a hora de dar um basta nesses meus enredos regados à desespero e vodka .
Acordo e decidida pego um ônibus. Vou atrás de abrigo no jardim florido da minha mãe. Eu deitada na rede do terraço, desatando os nós dos meus sentimentos numa conversa longa e carinhosa. E num milagre de confiança e amor tudo toma a proporção devida.
Faço feira antes de voltar para o apartamento vazio encarando confiante a vida na fila do caixa. Não atendo os telefonemas dele. Faço mais, desligo o celular. Então traço meus planos para hoje. Louça para lavar, casa para arrumar e paz por merecer.
Depois pode ser que veja um filme. Algo assim, bem levinho, bem bobinho, bem rasinho. E a vida segue.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Cães

Eles levaram os filmes para assistir em casa. Primeiro porque eu encolhida e com medo embaixo de um lençol, no tapete, me recusei a deixá-los invandir meu esconderijo sóbrio e infantil, onde disfarcei a vontade de gritar até desmaiar. Alí estavam protegidos meus terrores, embaixo de um algodão verde florido, meu corpo que tremia, meu coração que batia acelerado.
Meus terrores também estavam na minha frente, naquelas duas figuras de homens, que de repente viraram um só.
Porque mesmo em pânico, eu foquei e soube. Soube mesmo quem era.
E me assustou ainda mais ver bandeiras brancas desfraldadas na mão de ambos. A quase ternura escondida na ironia característica dos dois. Eles tinham vindo me oferecer conforto e risos, depois dos meus telefonemas bêbados e acusatórios. Então me deu uma vontade enorme de chorar porque eles realmente não sabiam como fazer aquilo. Eles entendiam meu desepero. Merda.
Me visto com as roupas da prepotência e da loucura e me ergo e conto piadas a respeito de mim mesma. Ácida. Então como saídos de um transe, vestimos todos nossas fantasias preferidas. Palhaços. Todos nós.
Mas existe algo aqui que não compreendo. Existe algo aqui além do alcance da minha racionalidade. Estamos todos muitos assustados com esse mundo louco e mal? Estamos com medo um dos outros? O universo inteiro cabe dentro do outro. Toda a maldade e todo o bem e toda a delicadeza e toda a crueldade. -Pensei. Não, não pensei, eu senti. Por um milionésimo de segundo tudo esteve tão claro nesse sentimento. Quase uma conversão.
Mas não aceitei nada e os acompanhei até a saída. Vão embora que eu não consigo mais, não hoje, entendem, porra? Eu não sou essa. Exijam a verdade sobre mim. Eu exijo a verdade de vocês. De você.- quase grito. Mas sorrio educada e sensual e fecho o portão.
Então lembro do outro Caio, além do menino abusado que descobri estar apaixonada: "Não te castiga assim, está tudo em paz. Nunca houve cães. É como uma cantiga de ninar nas cinzas do fim do mundo."

Por quem?

A esposa (para os récem-chegados, esposa=amiga que mora comigo) está indo passar dois meses na Itália dia 26. Como tudo nesta vida merece ser celebrado, já iniciamos o processo de festas (no plural) de despedida. A primeira foi ontem, na casa de um amigo amado. Ele organizou um jantar e fomos serelepes e cheias de rímel apreciar o efeito benéfico que boas risadas e excelentes companhias fazem para a pele. Mal estou na segunda dose de vodka e o celular toca. Era o amigo do menino abusado. Fui fria e disse que não, não queria que ele e seu amiguinho fossem nos encontrar.
O negócio é que há alguns dias o menino abusado em um surto de insanidade tinha me ligado e me acusado, entre outras coisas, de ter acabado com a vida dele ao ficar com seu amigo. Ora, eu não sou tão louca a ponto de não lembrar que o palhaço em questão tinha me informado da sua intenção em voltar para a namoradinha. E também lembro que não devo satisfações para o sujeito, ora bolas. Fui educada e fina e cheia de classe, uma verdadeira dama, mas resolvi que o negócio tava ficando complicado demais, e que os dois que eram brancos que se entendessem que eu tinha mais o que fazer.
O negócio é que eu sou um perigo com um celular nas mãos depois das três da manhã ou da sexta dose (o que vier primeiro) e hoje me deparei com uma série de ligações feitas por minha pessoa entre cinco e seis da manhã para ambos os imbecis. Ligações de muitos, muitos minutos. Sensação esquisita. Frio na barriga. Quando me dei conta do era aquilo além da óbvia ressaca, fiquei em choque.
Fudeu, mas fudeu mesmo, eu acho que estou apaixonada. Por quem mesmo?
Como desgraça pouca é bobagem, e o inferno é cheio de cão, os dois estão vindo para cá agora ver filme.
E não, não faz parte do meu repertório de fantasias eróticas dois homens na minha cama. Ou na minha vida.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Inferno!!!!!!!!



Bom, a imagem (ou pelo menos o texto nela) diz tudo que um longo post não conseguiria. É de Shiko, um artista Paraibano. Querendo ver mais trabalhos do cara vá aqui.

Por enquanto é só isso que tenho a dizer.

Mas daqui a pouco tem festa, e por conseguinte...

Mais cartas

Minha mãe estava de casamento marcado. Passagem só de ida comprada. Suíça dentro de três semanas, para encontrar L., seu noivo, cineasta e antropólogo, que havia conhecido e pelo qual se apaixonara na universidade. Resolveu ir para uma praia isolada, sozinha, antes de viajar. Conheceu meu pai. Largou todos os planos, rompeu o noivado (por carta), e se entregou ao desconhecido ao lado do homem da sua vida. Sete anos depois, ele a largou.
As cartas ainda continuaram por mais algum tempo. Somente elas. E eu.
Romântico?

Primeiro amor

Um dos meus trabalhos atuais é uma instalação com cartas. Então estou relendo todas as minhas muitas, muitas cartas, principalmente as recebidas na época que morei em Fernando de Noronha, dos dezoito aos vinte anos. Encontrei vários motivos de orgulho e sorrisos (e sim, algumas lágrimas). Um destes motivos é a percepção do quanto já fui amada por pessoas especiais. Uma dessas pessoas foi T. Ele foi meu primeiro amor aos onze anos, meu primeiro homem aos quinze, meu melhor amigo todo o tempo. Sempre estávamos juntos, mesmo quando não estávamos juntos. Não nos falamos há cerca de uns seis anos, mais ou menos.
T. tentou me impedir de casar, me ensinou sobre arte e me apresentou a Klimt , me presenteava com rosas vermelhas em caixas que ele mesmo fazia. Foi o único que amou quando eu cortei meu cabelo bem curto, foi me buscar no fim do mundo quando eu fugi de casa depois de uma briga com minha mãe, me amou até o último grito acusatório. Aceitou o pacote completo. Era também mulherengo e prepotente. Me abandonou uma boa dezena de vezes para voltar chorando. Então eu viajei para ensinar na ilha, e passei a receber as suas cartas. Curtas e cheias de entrelinhas. Abaixo uns trechinhos cheios de emoção de primeiro amor.
“... Shit! Será que nós... você sabe? Você se empenha? Você ainda pensa? Eu sim! Acredita ou acha uma loucura?”.
“Nossa despedida poderia ter sido mais, mais calor no abraço, mais atenção no afago, mais eu e você. Amo tanto.”
“ O sofrimento e a felicidade são os prêmios para perdedores e vencedores. Que tal vencer? Estou tenso, tezo... tudo pode mudar, mas o que sinto por você só pode crescer. Some meu amor à você. Sempre!”
“?Porque? Te amo! (Ainda?!)”
Então estou assim hoje. Num clima suspirante e saudosista. Ai...ai...

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Erro



Porque ela é phoda...

Castelo de cartas

Hoje a minha mestra veio aqui em casa olhar os meus últimos trabalhos. Cara de quem comeu e não gostou e eu com uma vontade louca de chorar. Recomeçar do zero ou desconsiderar a opinião de quem mais confio quando se trata de arte? Mas vou tentar lidar com a frustração de forma adulta e racional.
Isso se aplica ao post anterior também (deletado). Claro que sei das minhas virtudes e qualidades, é que por vezes um sopro alheio desmancha castelos de cartas delicada e pacientemente construídos. E não foi a atitude das pessoas envolvidas em uma brincadeira imbecil que me emputeceu. Na verdade, falei com todas hoje, estávamos todos muito bêbados, e quase ninguém se lembra de muita coisa.
Até aí normal, mas a visão de uma pessoa sobre essas atitudes e sobre o que pensa ter visto é o que realmente me deixou me sentindo mal comigo mesma. Isso me fez ver o quanto eu estou fragilizada e, portanto, suscetível a opiniões negativas a meu respeito. O fato de que tenho quinze anos a mais do que esta visionária pessoa, devia bastar para que eu sequer considerasse qualquer comentário. Mas considerei. Besta eu.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Adivinhação

Então, tá. Tenho andado meio depressiva e tal e coisa e coisa e tal, mas nada que um bom filme idiota acompanhado de cervejas geladinhas numa segunda-feira não resolva. E o melhor, com todas as minhas responsabilidades com o mundo capitalista em ordem. Então estou feliz, produtiva e pronta para o jogo do Brasil (contra quem mesmo?).
Na verdade o fato de não ter feito minhas adivinhações divinatórias (redundância redundante) na véspera de Santo Antônio abalaram minha fé no amor. Mas não se preocupem mais, meus problemas acabaram. Descobri uma bananeira aqui no bairro (para quem não sabe, ao enfiar uma faca virgem numa bananeira na véspera de Santontônio você descobre a primeira letra do homem com quem vai se casar). A faca virgem é o meu único problema agora, mas a essa altura do campeonato, não tem santo que se importe com virgindade de faca, nem com o fato d´eu fazer minha mandinga numa data que não é mais apropriada. Ora bolas, eu também não sou. Nem virgem nem apropriada.
Então brevemente conto para vocês a primeira letra do meu futuro marido. E se não der certo, bom eu vou continuar me divertindo à beça. Amém.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Sede

"Não sei como me defender dessa ternura que cresce escondido e, de repente, salta para fora de mim, querendo atingir todo mundo. Tão inesperada quanto a vontade de ferir, e com o mesmo ímpeto, a mesma densidade. Mas é mais frustrante. Sempre encontro a quem magoar com uma palavra ou um gesto. Mas nunca alguém que eu possa acariciar os cabelos, apertar a mão ou deitar a cabeça no ombro. Sempre o mesmo círculo vicioso: da solidão nasce a ternura, da ternura frustrada a agressão, e da agressividade torna a surgir a solidão. Todos os dias o ciclo se repete, às vezes com mais rapidez, outras mais lentamente. E eu me pergunto se viver não será essa espécie de ciranda de sentimentos que se sucedem e se sucedem e deixam sempre sede no fim."

Caio Fernando Abreu

Alguém me passa a Coca-Cola para ser tomada como café-da-manhã? Não, não quero brioches nem geléias importadas nem frutas frescas, quero corrosão no estômago, para que morram as borboletas coloridas que me fazem apertar a barriga com força e andar sempre à procura. Quero afastar de mim esse afeto pela humanidade, essa porra de sentimento que me fará sair de casa daqui a pouco em busca de beleza nos muros descascados e em velhinhas com sombrinhas negras. Que me fará te buscar em cada homem que carregue um livro. Que me fez pintar flores na parede acima do meu colchão, como não devia ser.

domingo, 13 de junho de 2010

A mulher triste

Para Ângela.

Enquanto espero a água ferver para jogar macarrão em suas borbulhas com sal e um fio de óleo, penso nas mulheres tristes. Uma delas, amiga querida, que mora em outra cidade me ligou hoje, enquanto eu ainda dormia. Não consegui nada além de balbuciar frases mal-elaboradas. Então esse texto é para ela, uma mulher triste como eu.
Para esclarecer desde o começo, a mulher considerada triste é antes de tudo, uma guerreira. Ela é sangüínea e cabe exatamente no seu corpo. Sente prazer com sua história de vida, mesmo que muitos capítulos desta sejam trágicos.
A mulher triste não acredita mais nas mentiras que lhe contaram, de que antes da revolução sexual éramos felizes e não sabíamos. Ela sabe que essa pseudo- alegria sentida por simplesmente estar em casa, cuidando dos filhos e lavando a louça, se chama na verdade conformismo. E rejeita com um riso debochado e um decote enorme a facilidade de animal domesticado.
A tristeza dessas mulheres é ancestral. Ele ainda sente na alma o calor das fogueiras, o aperto sufocante dos espartilhos e cintos de castidade, as mãos violentas, as bocas que difamaram e cuspiram. A tristeza dessas mulheres é atual, ele sente na pele, as brincadeiras sem-graça, os comentários pelas costas, a tentativa de apaziguamento dos que a cercam.A mulher triste não desiste de tentar. Nunca. Ela sabe, que neste momento da história ceder seria fácil demais. Então ela insiste. Porque a tristeza passará, ela mais do que ninguém sabe.

Totó.

Meu endereço agora é: Convento das Carmelitas Descalças. S/N.
Eu estarei de sandálias japonesas brancas e rezando em fervor ardoroso.
O dia hoje não foi nada bom para mim. E... "não estamos mais no Texas, Totó...".

E você?

Mas... e se você se apaixonasse por mim? Para valer?
Porque eu quero uma fuga disso tudo, eu sei... e você, o que quer?

Lençol azul

Três casais que representam o que eu acho de melhor no universo de dois. Fui eu que indiquei a luz mais romântica. Depois disso, eu na rede abusada e cansada de pintar paredes vãs.
Então saímos, porque sou legal, mas sou também um saco mulambento quando quero. E eu queria. Sei lá o que. Sei lá porquê.
Então chegamos no bar e eu mostrei as coxas no meu short curto e em risos escandalosos. Nada que fosse vulgar ou pensado. Porque sou sensual quando estou com raiva de mim. E não penso em mais nada.
Funcionou. Elogios, pedidos de meu telefone. Vários. Carona nas últimas, com um menino lindo de morrer, e eu não quero nada, entende? Eu não quero nada de ninguém.
Os casais perfeitos em casa quando entro. Só. Ainda. Eu sou o motivo de risada para mim mesma. Rimos muito. Todos nós. Porque eu sou engraçada, não é?
Jogo lavanda no meu lençol azul e é lá que dormirei daqui a pouco. Cheiro de respeito por mim mesma. Amém.

sábado, 12 de junho de 2010

Continuando

Aí ele chegou. O amigo do menino abusado. Trouxe as minhas chaves junto com inúmeros pedidos de desculpas. Mas eu já estava conformada. E cansada. E bem, se é para ser como nas comédias românticas, quando a mocinha descobre o amor pelo amigo depois de uma noite sem sexo e conversas “a nível de”, estou no caminho certo. Mas a verdade é que não gosto deste tipo de filme. Nenhum suspiro, nenhum grito, nada quebrado, carinho demais.
Excesso de fofura me irrita, e eu quero mais é embriaguez de paixão sem sentido. Só assim eu me fodo com gosto.
E passarei o dia dos namorados acabando de pintar as paredes do quarto. Comemorarei meus esforços de peão de com uma taça de vinho depois. Até aí vão meus planos.
Companhias na futura brancura total do recinto que acolhe meus sonhos podem surgir, quem sabe um outro dia, quem sabe mais tarde. Porque hoje é Sábado e “todo mundo espera alguma coisa num Sábado à noite, Sábado a noite tudo pode mudar”.
E eu continuo.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Tapete vazio

O roteiro exigia, sabe como é? Quando ele pegou no meu pé com delicadeza e sensualidade dissimulada, a cena daquele tal filme passou pela minha cabeça e eu o beijei. Silêncios estranhos num momento que pedia explosões e gritos e súplicas. Grite por mim, por favor. Ele nem, nem...
E assim foi até ele voltar no outro dia. Ainda silenciosamente. E eu falando pelos cotovelos e pelos joelhos. Palavras demais para preencher as estranhezas.
Deixo-o dormindo na minha sala vou jogar sinuca cinicamente, com a certeza de que ele esperará. Prepotência até as oito da manhã e um tapete vazio quando do meu cambaleante retorno para casa.
Meu chaveiro de flor foi com ele. Minhas chaves todas. As portas estão escancaradas e eu morando com essa ausência. Sem poder sair. E o silêncio das chamadas não atendidas. E o silêncio das verdades ditas. E o silêncio das certezas bebidas. E o silêncio.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Nem todos são comuns

A amiga esposa volta para casa depois de três dias fugida de casa. Risos e boas conversas. Faxina. Cerveja e conversa com amigos, os novos e os antigos. Telefonemas. Saída daqui a pouco. Eu sou mais eu e a noite ontem foi complicada e perfeitinha.
Nem todos são comuns.
Conforme-se, pois.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Vinho demais?

Mandei uma mensagem para um imbecil propondo vinho, filme e conversa amena. Ele não respondeu. Liguei. Ele não atendeu o celular. Peguei meu rolo de pintura recém-adquirido, abri a garrafa de vinho e comecei a embranquecer meu quarto amarelo e lilás. Chamei-o de filho da puta várias vezes na solidão dos móveis cobertos por jornal. Resolvo então ligar para o amigo do menino abusado. Conversamos durante três horas, como sempre, desde que nos conhecemos. Filosofia, sexo, risos, livros, faxinas, nós mesmos, mais risos. Desligo com um sorriso de orelha a orelha ao imaginá-lo lavando roupa.
Meu amigo.
Fico baixando episódios da segunda temporada da série preferida nos intervalos da secagem das paredes que pinto. Me olho no espelho, estou completamente pintada também, branco vitiligo nos braços, pernas, pés, rosto, cabelo.
De repente me dou conta, a única pessoa que eu faria questão que estivesse comigo agora e que eu não me importaria em mostrar-me como estou (inclusive riríamos disso) era o amigo do menino abusado. Pego o celular e não ligo.
Meu amigo.
O coração bate forte.
Ele não faz meu tipo, ora bolas, é só solidão misturada com frustração, falo sozinha no espelho.
Me assusto com a resposta do meu coração.
Vinho demais?

terça-feira, 8 de junho de 2010

Pequena delicadeza erótica

Passei a madrugada insone, até que desisti de rolar na cama e me entreguei ao livro que estava na minha cabeceira. Uma coletânea. As cem melhores histórias eróticas da literatura universal. Interrompi a leitura em Cântico dos cânticos, adorando o fato de que um texto bíblico pudesse fazer parte do imaginário sensual ocidental, junto com Marquês de Sade, Anaïs Nin, Henry Miller e Marguerite Duras.
Venho pesquisando sobre erotismo desde que fiz um vídeo que pincelava sobre o assunto. Envolta nesse universo, despertei para desejos nunca antes experimentados e tenho intuído uma mudança na minha forma de pensar e viver a sexualidade. No caminho larguei muita da culpa cristã que carregava desde a infância. E com menos bagagem a viagem tem sido muito mais confortável. Mas nem por isso mais fácil.
Por vivermos num ambiente predominantemente machista, que pune de formas diversas a liberdade sexual quando vivida por mulheres, temos que lidar com muitos outros medos além dos nossos. É esse terror, o da força que uma sexualidade sadia trás para a mulher, que já afirmou que o orgasmo feminino poderia levar á loucura. Que queimou bruxas e nos envolve em véus.
Continuamos, apesar de tudo, a buscar essa felicidade, essa delícia, essa estranha forma de morrer e renascer. E para que hoje o dia de vocês seja cercado de bons desejos, segue uma pequena delicadeza erótica, do Século XVII:
“Involuntariamente, recuei minhas nádegas um pouco e logo senti com prazer intenso algo escorrendo de mim e que me excitou deliciosamente. Meus olhos falharam, minha respiração ficou entrecortada, meu rosto pegava fogo e senti meu corpo inteiro derretendo. Então gritei: “Ah, ah, ah... Meu Caviceo, vou desmaiar... Segure minha alma... ela está deixando meu corpo!”.
Tenham um lindo dia!

segunda-feira, 7 de junho de 2010

É o que me interessa

Não costumo postar músicas neste blog. Mas tenho cantado, assobiado e rezado com essa música por esses dias. Amém.

É o Que Me Interessa
Lenine

Daqui desse momento
Do meu olhar pra fora
O mundo é só miragem
A sombra do futuro
A sobra do passado
Assombram a paisagem.
Quem vai virar o jogo
E transformar a perda
Em nossa recompensa
Quando eu olhar pro lado
Eu quero estar cercado
Só de quem me interessa.
Às vezes é um instante
A tarde faz silêncio
O vento sopra a meu favor
Às vezes eu pressinto
e é como uma saudade
De um tempo que ainda não passou
Me traz o seu sossego
Atrasa o meu relógio
Acalma a minha pressa
Me dá sua palavra
Sussurra em meu ouvido
Só o que me interessa.
A lógica do vento
O caos do pensamento
A paz na solidão
A órbita do tempo
A pausa do retrato
A voz da intuição
A curva do universo
A fórmula do acaso
O alcance da promessa
O salto do desejo
O agora e o infinito
Só o que me interessa.

Para qualquer um.

Depois de um texto que me fez chorar baldes de auto-piedade ao ser lido, reescrevo meus pensamentos de forma menos trágica. Não tenho conseguido resolver muitas coisas na minha vida e claro, que nessas horas ceder à idéia de alguém resolver tudo para mim é tentadora. E inútil. Porque não há ninguém.
Tenho bons amigos, uma mãe maravilhosa, uma cama gentil e isso tem que me bastar por hora. Não quero mais violentar meus desejos para caber no que me oferecem. Porque tem me oferecido muito pouco. E eu ocupo espaço demais.
Não sou uma pessoa fácil nem boa nem apaziguada. Mas no meio das piadas acerca de mim mesma que conto para o espelho que se tornou esse blog, ainda posso reconhecer a dona de uma capacidade de amor maior que ela mesma.
Isso é muito. E não é para qualquer um.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

O funcionamento das coisas

Ontem, o amigo que divide a casa com o menino abusado ligou para mim. Conversamos horrores e ele desculpando o amigo pela noite anterior e tal e coisa e coisa e tal. Relevei a atitude adolescente de mandar recado do menino abusado, porque sou uma pessoa de luz. Combinamos então, eu e o amigo do menino abusado, de tomarmos todos uma cervejinha no começo da noite, quando de acordo com este, o rapazola voltaria de uma curta viagem de trabalho.
Fico na minha quando passa das oito e ninguém liga. Boto minha camisolinha azul céu e vou assistir True Blood (Sim, estou viciada!). O celular toca 9 da noite. É o amigo do menino abusado. Aí já era demais. Peço para passar o telefone pro sujeito que depois de dez minutos de conversa me brinda com a seguinte frase.
- É que eu quero ser seu amigo. Eu pretendo voltar com minha noiva, nunca vou achar uma mulher como ela.
- Mas eu não quero ser sua amiga, eu quero transar com você. Então, amore, sabecumoéqueé, foi bom te conhecer. Beijo, me liga – Finalizo, desligando o celular.
Bom, pensava eu que colocadas as coisas como deviam ser, o doido de kisuco não mais me ligaria. Estava errada. Onze da noite. Não liga o doido. Liga o amigo.
- Vem para cá?
- Fazer o que?
- Conversar com a gente.
Ahã. Entendeu errado a mensagem, neguinho. Vamos esclarecer as coisas, pois. Fui. Mal eu chego, como eu sabia que aconteceria, o menino abusado tenta me beijar. Eu me afastei, sorri sedutora e lancei-lhe a seguinte pérola advinda do meu ego ferido.
- Sabe, eu vim aqui hoje porque pensei no que você disse e acho que realmente devemos ser apenas amigos, tá bom? Sinto o maior carinho por você.
Claro que eu queria beijá-lo e claro que eu estava morrendo de tesão. Claro que eu estou puta da vida e claro que gostaria que as coisas tivessem dado certo. Claro que eu estou magoada. A grande questão é que a maioria das pessoas prefere nossa versão editada. E só pode nos oferecer a sua própria.
Sei que seria mais digno e verdadeiro de minha parte chegar lá e abrir meu coração e dizer ei moço jogue comigo não que to cansada e pouquinha. Mas não é assim que as coisas funcionam. E quem souber como é, por favor, me conte.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Xadrez

Estou na universidade, comendo panquecas e tendo conversas inteligentes quando o celular toca. É o menino abusado perguntando se estou em casa e dizendo que esqueci meus brincos na sua humilde residência. Fico feliz com o telefonema pós-sexo, mas acho estranha a rapidez com que o sujeito desliga avisando que está indo ao shopping. Bom...
Chego em casa e muitas elocubrações depois resolvo ligar pro rapaz e perguntar qual a programação da noite. Festa da prostituta no centro. Sério? Então tá. Lá fomos nós, eu, amiga e namorado da amiga, porque somos cool, ok? Tava uma bosta e sinceramente não me apetecia pagar uma grana para ver um desfile de lingeries num cabaré. Sendo assim, sem encontrar o rapazola começamos nossa peregrinação pelos bairros da cidade, confiantes que sempre há bares que vem para o bem.
Duas horas depois, finalmente avistamos um lugar que tinha mais de três pessoas e estacionamos nossos bumbuns em cadeiras de plástico vermelha. Quem estava no local? Ele mesmo, o menino abusado. O que aconteceu depois foi surreal. Mas destaco aqui o seguinte diálogo.
- Eu não vou mais jogar xadrez com você.- Diz o rapaz
- Ouxe, e a gente jogou? Pensei que tínhamos feito sexo.- Digo já encafefada.
- Quando eu levantei para pegar as cervejas você trocou todas as peças de lugar.- continua o rapaz na sua teoria.
- E foi?
- É, você disse que nunca mais ia transar comigo.- Setencia por fim.
Ah, então tá, era questão de ego ferido. Lembrei que num momento de carinho, o rapaz tinha me proposto dormimos juntos várias noites por semana, e assustada com o rumo das coisas eu me saí com a frase acima. Claro que não era verdade, que não sou burra nem nada de aproveitar coisas boas apenas uma vez. Mas ele ficou puto de verdade. Ou pelo menos me pareceu ontem.
E assim, com minhas frases de efeito que são uma completa mentira, levei xeque-mate.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Pele

Algumas horas e uma garrafa de vinho depois do incidente do cinzeiro o telefone toca (já tinha mandado uma mensagem com o novo número para algumas pessoas) e é o menino abusado. Eu de cara inchada e olhos ainda vermelhos entro no chuveiro assim que aceito um convite para assistir filminho na casa do sujeito.
Bom, o que posso dizer sem correr o risco de perder a finesse que me é peculiar. Que a noite só acabou de manhã? Que saí fugida descalça e de pernas bambas porque precisava dormir e sabia que não o conseguiria ao lado de tanto vigor? Que passei o dia hoje rindo sozinha? Que minha pele está linda?
Ai...Ai...

terça-feira, 1 de junho de 2010

Os telefonemas, o ex-marido e o cinzeiro

Recebi uma mensagem da minha operadora de celular informando um número de protocolo de um tal pedido feito numa tal central de atendimento. Pedido este que não fiz. Somo dois mais dois, tomo coragem e ligo para o ex-marido.
- Você mandou cancelar meu celular?- Pergunto delicadamente
- Mandei. Tinha uma conta atrasada.- Responde com uma voz de congelar o inferno.
- Porque você não me mandou a conta?- Retruco já menos delicadamente.
- ...
- Olha, mais tarde vou encontrar F. (comadre e ex-vizinha) e mando por ela o aparelho e o chip.- Falo já puta da vida
- Só quero o chip.- Responde grosso feito papel de enrolar prego.
- Você não está podendo falar não?- Levantando a voz alguns decibéis.
- Estou no trânsito- Responde o palhaço desligando na minha cara.
Respiro fundo e mesmo assim não consigo me controlar, afinal de contas a porra do celular estava no nome dele porque o imbecil destroçou o meu num acesso de ciúme. Conto até dez e ligo novamente. Eu sei que não devia, mas...
- Você recebeu minha carta? Porque não respondeu?- A carta em questão tratava de vários assuntos de ordem financeira.
- Tinha o que responder?- Pergunta o idiota.
- Tinha, você sabe que eu preciso me programar financeiramente.- falo como quando trato com crianças.
- Olha, deposito o dinheiro dia cinco.- E desliga. Na minha cara novamente.
Bom, na nossa primeira separação, que acabou resultando em divórcio saí sem nada. Nunca nem pensei em pedir, uma vez que tinha uma situação profissional estável. Voltamos a viver juntos depois de um tempo e seis anos depois, nova separação. Desta vez eu estou de volta à universidade, à tarde, o que me impede de manter um emprego nos dois horários e ganhando muito pouco num estágio. Ainda tento ganhar um extra com meus projetos em artes visuais, e mesmo assim novamente deixei tudo para ele. Inclusive a Pajero 0 km que ele comprou quatro dias antes que eu saísse de casa.
Não sou a favor de ser sustentada por homem nenhum, mas pedi que ele me ajudasse por um período de seis meses a uma ano até que eu acabasse meu curso e me estruturasse financeiramente. Era sobre isso que a tal carta tratava. Aleguei não querer recorrer a advogados e tal. Tentei ser razoável. Fui delicada. Juro. Por isso...
- Olha, porra, você está me julgando interesseira?- Pergunto assim que ele atende minha terceira ligação.
- Não estou julgando nada. Só não quero falar com você. Não ligue mais para mim.
Bom, amigos e amigas, falou o homem que passou quinze anos me aperreando o juízo telefonicamente. De madrugada. De tarde de manhã e de noite. Gritando. Chorando. Ameaçando. Todas as opções juntas. Esse ser agora não quer mais falar comigo. Não sei se rio ou se eu choro. Mas já quebrei um cinzeiro na parede de puro ódio.
Palhaço!
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