Postado aqui no blog há algum tempo atrás. Hoje. Novamente.
Talvez porque nada é tão triste quanto um fim, exista tanto temor frente aos recomeços. Sim, eu tenho medo, morro de medo, assumo. Não quero mais essa dor que rasga tudo que você demorou tanto tempo para costurar e então vestir coração e aquecer a alma.
Não quero tudo dilacerado. Não sei mais como...
Não quero ver todos os meus jardins pessoais devastados por pragas que não sei como tratar. E ver tudo que era verde e broto e promessa, murchando até fenescer...
E me flagro quase chorando, porque essa ternura que insiste em estar aqui, em mim, todo o tempo, me pega de surpresa sussurrando encantamentos e cantigas de consolo. Viro as costas e ela me persegue pela casa, entranha-se em cheiros que trazem lembranças de tempos tão felizes.
Não quero. E digo não e não e não. Mando-a embora, mas ela se recusa. Ela fica. E hoje não tem vinho nem outra anestesia para fingir que ela é apenas mais um fantasma inconveniente.
Olha, esse mundo virtual é uma delícia. Eu amo a Lú e foi ela que primeiro "roubou" o texto abaixo do Rafa, que eu também amo.
Se Dadá assim o permitir tomaremos todas e mais algumas, um dia no Rio, nós três juntinhos.
E ah, como riremos e brindaremos, meus lindos...
Aproveitem...
Quem tem medo dos gays?
Prezadas famílias de comercial de margarina, células fundamentais da nossa sociedade, núcleos familiares formados por um pai provedor-bonachão-de-bigodes, mãe-de-avental-fazendo-bolinhos-de-chuva-no-Domingo-de-tarde e crianças-loiras-e-sapecas-comendo-seus-sucrilhos-no-café-da-manhã: Nós os gays, também chamados de bichas, viados, boyolas existimos!
Talvez vocês não tenham reparado, mas aquele tio solteirão, o primo que raramente comparece às festas de família e sempre que vai, leva um amigo, sãos gays. Desculpem-me avisá-los assim, mas há entre nós senhores de respeitável aparência e família solidamente formada e mulheres eternamente insatisfeitas com os maridos que, uma única vez, numa Quinta à noite tocaram suas amigas por sobre a blusa. Isto e pegações em lugares escuros, encontros fortuitos e uma psique destroçada era todo o possível para nós, as bichas, até algumas décadas atrás.
Felizmente hoje, nós temos maior visibilidade e aceitação social. A sensação que se tem de que a “ameaça gay” está se alastrando é só isso: uma impressão. O que acontece é que homens e mulheres gays deixaram de constituir famílias heterossexuais que seriam infelizes e não precisam se esconder tanto, ainda que não seja fácil assumir-se em muitas instâncias sociais. Mas fiquem tranqüilos: estatisticamente não estamos nos multiplicando.
O pânico que despertamos nos setores conservadores da sociedade supõe que a humanidade inteira é composta por bissexuais e que se estes descobrirem o terrível e fascinante segredo de que o sexo entre os que tem o mesmo sexo é muito mais prazeroso, a espécie humana estará terminada. Apesar de concordar com vocês que o sexo com outro homem é bem mais interessante do que com mulheres, minhas amigas lésbicas aqui discordarão, devo lhes dizer que há homens que gostam de mulher de verdade. É sério! Gostam de beijar-lhes, ternamente, o seio, passar a língua no bico intumescido e descobrir-lhes o quente e úmido do entre as pernas enquanto aspiram ao perfume que, em ondas, emana de seus cabelos É estranho, mas é verdade, existem homens que gostam de mulheres e vice-versa. Ou seja, o pânico de que, se reconhecerem nosso modo de amar como legítimo, a humanidade findará é só uma imensa bobagem.
Outra novidade: crianças criadas por casais gays não se tornam necessariamente homossexuais. A imensa maioria dos gays que conheço e eu próprio fomos criados em lares heterossexuais, numa escola heteronormativa, numa sociedade heterosexista e somos viados. Ou seja, há algo muito forte e real na forma como cada ser humano ama e deseja, capaz de contradizer as instâncias mais fundamentais da vida social. Seu filho, sua linda filha de maria-chiquinha e vestido florido não vão “virar” gay por ver um casal de homens com seu filho na capa de uma revista, nem duas mulheres se acarinhando românticas à luz do dia, pelo contrário, talvez isto os ajude a se tornar seres humanos melhores: mais plurais, humanamente fraternos e capazes de reconhecer o brilho da vida em toda a parte em que ele refulge.
Pra dizer a verdade, os gays não são uma ameaça à família ou a humanidade em geral. O que corrói estas sagradas instâncias é a falta de amor, de interesse no outro, de diálogo e partilha e estes males não tem gênero, nem orientação sexual definida. Lamento informá-los, mas nós não somos os monstros que se pensa, procure-os dentro de vocês. Eu sei dos meus e mantenho-os vigiados, sem deixar que se projetem no outro só porque esse é diferente de mim.
Olha, me desculpem as pudicas, mas se alguém tentar me convencer que sexo casual deixa você com uma sensação de vazio depois, não conseguirá. Porque eu me sinto bem preenchida para falar a verdade. Com o bônus extra de uma pele luminosa.
E contando do cara, que é ator, para uma amiga, ela exclama:
-Porra, esse cara é o gato que fez Jesus na Paixão de Cristo no ano de sei lá quando.
Eu consegui acordar sem lembrar como tinha chegado em casa e nem com quem tinha dormido. Até que a ficha caiu. Eu sequer tinha saído, muito menos bebido ontem. Vejam só que economia, senhoras e senhores, não preciso mais gastar um centavo com cerveja. Tô ficando louca de marré descer até dormindo.
E também hoje descobri outra forma de sair da realidade. Acorde. Tome café. Descubra que está sem cigarros. Espere mais umas duas horas em crise de abstinência e só então vá comprá-los. Acenda o primeiro voltando para casa. Escute os passarinhos e os pedreiros falando palavrão. Observe com um olhar artístico o verde do mato ralo e o cinza do cimento que vai fazer surgir futuras paredes. É simplesmente adorável a mistura de sensações. Um leve tontura, a suburbanidade, enfim... recomendo.
E ontem, lendo Marian Keyes, descobri a deliciosa paz que descrevi no post anterior. Ela só acontece no intervalo do sofrimento desesperado pela perda do seu último homem e a euforia tsunamica advinda da descoberta do próximo. Aproveitemos...
Claro que não existe nada mais gostoso que sair com foco. Pensando em encontrar especificamente um alguém. Sentir o coração acelerar porque você avistou seu homem da vez. Se chegar. Se afastar. Se chegar novamente. Sorrir. Beijar.
Enfim... vocês entenderam...
Meio borocochó com a minha atual falta de preenchimento emocional, fui procurar uma letra de música que lamentasse esse vazio. No lugar encontrei foi uma espécie de comemoração das possibilidades todas que isso, esse vazio, trás.
Cantemos juntos e deixemos que a vida nos surpreenda. Amém.
Mais leve e de Branco
Oswaldo Montenegro
Que maravilha não sentir mais amor Eu tou mais leve e de branco Não ver mais graça no seu brilho (eu já vi) Sentar sozinho num banco E olhar a rua sem meu olho te procurar E achar a sua simpatia em qualquer lugar Pensando bem você que tinha razão Pesando bem cada fato Não há tragédia é só o fim E a canção ficou mais leve e o barato É olhar a rua sem meu olho lhe procurar E achar a sua simpatia em qualquer lugar
Passei três dias em casa fazendo crochê. Não, não foi bucólico como na foto acima. Eu estava de pijama de gatinho e não penteio o cabelo desde.
Talvez o chapéu fosse mesmo uma boa idéia...
Ainda assim, mulher respeitável, recolhida do mundo, as novidades acabam por chegar.
Homem-zen comentou com E. que eu estava pegando no pé dele. Foda. Foda mesmo. Até porque quem tem me ligado é ele.
À cobrar.
Não atendi e ele me mandou um torpedo.
À cobrar.
Se alguém souber como receber essa merda de mensagem à cobrar, me ensine, porque eu mesma não consegui.
Cheia de ódio no coração e deixando que minha voz congelasse seus ouvidos, liguei para avisar que não tinha previsão de entregar a merda dos óculos escuros dele, o único motivo que me passou pela cabeça para o sujeito insistir na tentativa de comunicação.
Ele pede o telefone da outra S.
Dei o número e desliguei.
Homem-zen ligou para a outra S. Só para dizer: “Oi, é o homem-zen. Salva meu número, ok?”. E ela sem entender nada.
Eu amo demasiado. Isso é um fato. E me entrego para morrer um pouquinho a cada negativa do outro. E renascer bobamente em qualquer sorriso vão ou delicadeza ínfima logo adiante. Eu me adianto aos desejos que nem sequer são. E atropelo, caminhão, qualquer possibilidade recém-nascida. Sou eu a assassina e a vítima.
Mesmo assim,
hoje,
pijama,
chuva,
aconchego de lençóis
cama.
Se isso não é poesia, eu não sei mais de nada...
E dele que falou mais e melhor...
O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.
O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.
O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.
Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.
O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.
O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.
O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.
O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.
O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.
O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.
As falas do personagem Joaquim foram extraídas da poesia"Os Três Mal-Amados",constante do livro"João Cabral de Melo Neto - Obras Completas",Editora Nova Aguilar S.A. - Rio de Janeiro, 1994, pág.59.
"... eu sei que flores existiram, mas que não resistiram a vendavais constantes..."
O show de Maria Bethânia foi lindo. Cumpri com minha promessa de gritar “Deusa” em uma demonstração de tietagem explícita. Porque vejam bem, é o que ela é. Uma deusa. Só quem já viu essa mulher num palco (né, Lú?) pode saber do que eu estou falando.
Depois de Bethânia, Totonho. Show num barzinho aqui da terrinha que tem a vista mais bonita da cidade. Gente. Gente. Gente.
Homem-zen também. Depois de horas sem me dar bola, sumiu. Escafedeu-se.
Quanto a mim, só cheguei em casa de manhã. Ainda sóbria. Cansada. Pouquinha.
Acordei com um telefonema do sujeito. Fui fria. O negócio é que desencantei. Novamente.
Tristeza mode on. E essa merda de tempo chuvoso não ajuda em nada.
Só sei que nessa brincadeirinha estou virando quase uma freira cotó e cega que faz manualmente lençóis de algodão 5000 fios lá no alto Himalaia. Sexo que é bom...
Fato: Larguei minhas amigas todas na mesa do bar e fui para o Centro com o homem-zen, que além de não me beijar prendeu meu dedo na porta do carro.
Mensagens posteriores:
De S. para Homem-Zen: Tem como usar meu dedo roxo para te chantagear e conseguir o que eu quiser?
De homem-zen para S.: Pode.
De S. para Homem-Zen: Pedido 1- Massagem nos pés. Pedido 2- Sexo. Pedido 3- Vc concordar com tudo que eu fizer ou disser. Por enquanto é só.
Fato: Voltei para casa com o amigo-beijado.
Mensagens e telefonema posteriores:
De S. para amigo-beijado: Favor enviar relatório dos acontecimentos ocorridos a partir do meu resgate no Centro. Quem é Marinésio e porque ele me ama? Grata.
Amigo-beijado liga.
Eu: Diz, amigo-beijado!!!
Amigo-beijado: Alô? Não, não é ele. É Marinésio.
Eu: Vai se fuder!
Fato: Eu conheci um Marinésio(!?)
Mensagens posteriores:
De Marinésio para S.: Tá melhor? Gostaria de ver você amanhã. Você não gosta do meu nome, mas gostei de você. Você é bem louquinha também. MARINÉSIO
De S. para Marinésio: Eu sou uma gênia. Sério.
De Marinésio para S.: Isso é um sim? Nos vemos amanhã? Antes das oito estarei lá. Te procuro.
De Marinésio para S.: Parece que hoje a gente não se vê. Será que você ainda lembra de mim?
De S. para Marinésio: O homem do nome estranho? Claro!Só não exija reconhecimento imediato quando e se nos encontrarmos.
A era da comunicação, Senhoras e Senhores, a era da comunicação...
Eu amo meus amigos, muito, muito. Sou adepta fervorosa da teoria de Lú de que "amigo meu não tem defeito". Complemento: Tem características. Enfim, amo meus amigos por tudo. Sua beleza, inteligência, glamour, mas principalmente por seu bom gosto musical.
Esta é a música que T. eternizou para nós com sua linda voz dia desses. E recomenda. Emocionem-se com:
Achou pouco? Esta outra me foi veementente aconselhada pela amiga-esposa.
E falando em amizades e músicas. Ontem eu saí com a outra S. e E. que acabou indo cedo para casa. Em algum momento da noite, a outra S. se deu bem e eu, boa amiga que sou, afirmei que também ficaria bem, que ela podia ir transar enlouquecidamente na santa paz do Senhor.
Só que não fiquei. Bem. Mas fiquei sem dinheiro. Resumo da opereta. Quatro da manhã, o bar fechando, uma chuva de desabar telhados e eu ligando para todos os amigos motorizados. O problema foi resolvido, enfim.
A questão é que entre os amigos que não atenderam aos meus telefonemas estava o amigo-beijado (que é músico, por isso amizades e música, sacaram? sacaram?). Me dei conta só hoje quando acordei que podia ter soado meio paixão-desesperada-ela-vai-se-matar-está-bêbada-e-descobriu-que-me-ama uma ligação minha tão tarde. Então resolvi mandar uma mensagem me justificando (não só para o amigo-beijado, mas para todos os sete outros incomodados). Ele me ligou de volta. Disse que eu ligasse quando quisesse, que tudo bem e blábláblá wisckas sachê. Enquanto eu murmurava hunruns pensava: então porque não atendeu, porra?
Algumas horas depois desse momento telefônico, fui dar um cochilo e quando acordei tinham duas ligações não-atendidas do dito-cujo no celular. Liguei de volta (oi?).
Agora é que vem o babado, então se senta...
O amigo-beijado é um dos integrantes do harém da outra S. (que quando soube do ocorrido riu e mostrou sua verve solidária, que divide bens entre os menos favorecidos).
Pois então morra de vez, porque ele falou que tinha ligado porque estava num restaurante com homem-zen (que está sem celular) e o boymagia queria falar comigo. Tá durinha? Pois apodreça sabendo que ambos queriam confirmar uma carangueijada* (eu, eles e a outra S.) para esse fim-de-semana.
Introjetou, baby? Então, vamos as opções:
Opção 1: O amigo-beijado está muito a fim da outra S., e já que ela é muito minha amiga, ele se prestará ao papel de confraternizar com uma louca beijoqueira que fica, coincidentemente, vez ou outra com seu melhor amigo.
Opção 2: O homem-zen está tão na seca, que não só quer falar comigo por telefone quanto também quer me ver para dar uma trepadinha básica e tamanho único. Como é só sexo mesmo nem interessa o fato de eu ter beijado o melhor amigo dele.
Opção 3: O homem-zen está muito a fim de mim, que não só quer falar comigo por telefone quanto também quer me ver para me pedir em casamento. Como é amor nem interessa o fato de eu ter beijado o melhor amigo dele.
Opção 4: O homem-zen tem manias estranhas, que envolvem algemas, chicotes e mulheres que beijam seus melhores amigos.
Opção 5: O amigo-beijado não contou ao homem-zen que nos beijamos. Quer que fiquemos todos bebâdos para enfim abrir o coração entre lágrimas emocionadas e juras de amizade eterna.
Opção 6: Eles querem me matar. Ou fazer sexo grupal. Ou fazer sexo grupal e me matar. Ou me matar e fazer sexo grupal. Tá, vocês entenderam.
Opção 7: Todo mundo é maduro, adulto e civilizado e só eu, uma pobre criatura careta e ultrapassada acho estranha uma situação tão normal e simples como essa.
Opção 8: Caralho, mulher é tudo bicho doido mesmo, um telefonema e essa criatura já desenvolveu tudo isso?
Aceitamos sugestões que sirvam para que eu continue mastigando esse chicletinho mental. Grata.
* Carangueijada é um estranho e curioso hábito do litoral nordestino. Consiste em matar bichinhos indefesos (os pobres dos carangueijinhos), cozinhá-los em uma panela com temperos variados, munir-se de martelinhos e tábuas de madeira. Bater, quebrar, chupar, se melar e resmungar de satisfação durante horas e horas. Intercala-se com cerveja gelada ( a única parte que gosto e participo nesse ritual primitivo).
Amores e amoras do meu Brasil varonil, afirmo agora com toda galhardia (adoro!) que me cabe: minha vida é uma sucessão de emoções. Mesmo em dias como hoje, que decidi não sair do pedaço que me cabe neste latifúndio e quase nem atendi o celular.
Vejam vocês, xuxuzinhos da terra, eu moro logo ali, onde ontem acharam as botas de Judas. Num lugar bucólico e cheio até o céu anil de uma exuberante natureza, mas que exige de você sair torrando no sol do meio-dia para poder chegar num compromisso marcado para três da tarde. Pesquise no Google “Longe para caralho”. Aí mesmo.
Mas eu não perco o bom-humor, vejam bem, e sempre encarei meu triste destino de excluída da civilização com garbo e valentia. Mas hoje foi demais, fofoletes, até mesmo para mim. Saí de casa apenas para comprar cigarros (nem ouse me criticar, madre Tereza!). Bastou isso para me deparar com a praga dos tempos atuais aqui em para lá de Marrakesh. Sapos. Muitos sapos. Pulei alguns que alegremente coaxavam (falei bonito, não foi?) e me sentindo vitoriosa quase esboço um sorriso superior.
Mas a natureza se vinga, senhoras e senhores. Ela é má.
Porque foi exatamente durante esse pequeno momento de triunfo que um EVNI (espécie voadora não identificada) me atingiu. Segundos depois soube-a pelo cheiro. Era aquele bichinho que fede bragaraio e que eu esqueci o nome agora.
Fedida e resfolegante chego no posto e compro meu roliudí, o sucesso, de um atendente que olha para mim e ri. Olha e ri. Olha e ri. Fecho a cara, pego o troco e retorno para casa. Os sapos e os pulos se repetem. Não ousei me sentir vitoriosa again porque aprendo as lições duras que a vida me ensina. Pensa que acabou? Nananinanão! Quem me recebe alegremente no portão de casa? Miró. Não o artista, mas o cachorro da minha mãe, um experimento genético cruza de pitbull com rot(valha!!!). Miró me ama, eu sei, só que sua forma de demonstrá-lo é me derrubando no chão. O que ele fez hoje com toda passionalidade e baba exigida para tanto sentimento canino. Grito, falo palavrão e esperneio. Minha mãe faz cara de inocente quando afirma que ele precisava fazer xixi e ela tinha o soltado para isso. Já falei por aqui que minha desnaturada progenitora o intitula meu irmão mais novo? E sim, ele é o predileto.
Enfim, fui tomar um banho para me livrar dos odores de tanta natureza nimim. Aí me olhei no espelho. Para que, é o que me pergunto até agora. Para que, meus deusis??? A ignorância é uma benção, já afirmava minha sábia (contradição mode on?!) avó.
Eu não usei demaquilante ontem antes de dormir, pensei. Eu saí com delineador, lembrei. Sentiu? Isso mesmo, Jack-Sparow-Deep-Piratas-do-Caribe era meu segundo nome. Entendi a risada do atendente do posto. Só não entendo é minha triste sina. Vida pacata é o caralho, meu nome é Zé pequeno.
Porque você é uma menina com uma flor e tem uma voz que não sai, eu lhe prometo amor eterno, salvo se você bater pino, o que, aliás, você não vai nunca porque você não acorda tarde, fez anos de terapia, já rí como louca surtada e gosta de brigadeiro (tanto o doce feito com leite condensado quanto como um bom bofe fardado) e de vinho. E de mim.
Então eu tive a coragem de me levantar da frente da tela do computador para recolher você no meu abraço, e o mato à nossa volta se faz murmuroso e se encheu de vaga-lumes enquanto a noite descia com seus segredos, suas mortes, seus espantos. E nós rimos e dançamos e bebemos e vociferamos.
E já que você é uma menina com uma flor e eu estou vendo você agora no facebook - tão presente entre as ausentes-sem-vergonha (a ladeira virtual que te trouxe ao meu chalé, aqui nessa montanha recortada pela mão de um engenheiro incompetente) meu coração põe-se a bater cada vez mais depressa.
Para você tudo, amada.
Porque você é linda, tem um riso que não cabe nesse mundo, porque você é meiga e sobretudo porque você é uma menina com uma flor.
Meu bom-humor se jogou do prédio em construção aqui do lado.
Eu fiz canga do santo sudário e xinguei a sagrada família, só pode! Para onde eu vou pedreiros me acompanham... barulho às seis da madrugada, poeira e cantadas baratas todos os dias na vida dessa que vos escreve.
Juro pelos deusis, no terreno aqui do meu ladinho.
Lú, que já voltou para Mossoró, veio, viu e tá de prova.
Mas, enfim... nem só de desgraças vive meu mundo. Proposta de empreguinho phino para 2011 e minha primeira exposição individual marcadérrima para Outubro. Espocar de fogos e close para meus olhos marejados de emoção lacrimal, por favor!
E teve beijo na boca dia desses. Dos bem dados. Beijo modelo adolescência, quando não se ia muito longe e tudo era expectativa e vontade. E ele é um cara tão legal, mas tão legal, que é meu amigo. Então teve a decência de ligar hoje, dizendo que recebeu minha mensagem pós-beijo-madalena-arrependida e nos definiu em voz delicada como adultos que sabiam o que estavam fazendo.
Eu sabia mesmo?
Temo que isso, esse surpresa estranha, dê em nada além de incompletude e perda.
Por isso, por hora, a poesia completa de Hilda Hilt
Dez chamamentos ao amigo
I
Se te pareço noturna e imperfeita Olha-me de novo. Porque esta noite Olhei-me a mim, como se tu me olhasses. E era como se a água Desejasse Escapar de sua casa que é o rio E deslizando apenas, nem tocar a margem. Te olhei. E há um tempo Entendo que sou terra. Há tanto tempo Espero Que o teu corpo de água mais fraterno Se estenda sobre o meu. Pastor e nauta Olha-me de novo. Com menos altivez. E mais atento.
II
Ama-me. É tempo ainda. Interroga-me. E eu te direi que o nosso tempo é agora. Esplêndida altivez, vasta ventura Porque é mais vasto o sonho que elabora Há tanto tempo sua própria tessitura. Ama-me. Embora eu te pareça Demasiado intensa. E de aspereza. E transitória se tu me repensas.
III
Se refazer o tempo, a mim, me fosse dado Faria do meu rosto de parábola Rede de mel, ofício de magia E naquela encantada livraria Onde os raros amigos me sorriam Onde a meus olhos eras torre e trigo Meu todo corajoso de Poesia Te tomava. Aventurança, amigo, Tão extremada e larga E amavio contente o amor teria sido.
IV
Minha medida? Amor. E tua boca na minha Imerecida. Minha vergonha? O verso Ardente. E o meu rosto Reverso de quem sonha. Meu chamamento? Sagitário Ao meu lado Enlaçado ao Touro. Minha riqueza? Procura Obstinada, tua presença Em tudo: julho, agosto Zodíaco antevisto, página Ilustrada de revista Editorial, jornal Teia cindida. Em cada canto da Casa Evidência veemente Do teu rosto.
V
Nós dois passamos. E os amigos E toda minha seiva, meu suplício De jamais te ver, teu desamor também Há de passar. Sou apenas poeta E tu, lúcido, fazedor da palavra, Inconsentido, nítido Nós dois passamos porque assim é sempre. E singular e raro este tempo inventivo Circundando a palavra. Trevo escuro Desmemoriado, coincidido e ardente No meu tempo de vida tão maduro.
VI
Foi Julho sim. E nunca mais esqueço. O ouro em mim, a palavra Irisada na minha boca A urgência de me dizer em amor Tatuada de memória e confidência. Setembro em enorme silêncio Distancia meu rosto. Te pergunto: De Julho em mim ainda te lembras? Disseram-me os amigos que Saturno Se refaz este ano. E é tigre E é verdugo. E que os amantes Pensativos, glaciais Ficarão surdos ao canto comovido. E em sendo assim, amor, De que me adianta a mim, te dizer mais?
VII
Sorrio quando penso Em que lugar da sala Guardarás o meu verso. Distanciado Dos teus livros políticos? Na primeira gaveta Mais próxima à janela? Tu sorris quando lês Ou te cansas de ver Tamanha perdição Amorável centelha No meu rosto maduro? E te pareço bela Ou apenas te pareço Mais poeta talvez E menos séria? O que pensa o homem Do poeta? Que não há verdade Na minha embriaguez E que me preferes Amiga mais pacífica E menos aventura? Que é de todo impossível Guardar na tua sala Vestígio passional Da minha linguagem? Eu te pareço louca? Eu te pareço pura? Eu te pareço moça? Ou é mesmo verdade Que nunca me soubeste?
VIII
De luas, desatino e aguaceiro Todas as noites que não foram tuas. Amigos e meninos de ternura Intocado meu rosto-pensamento Intocado meu corpo e tão mais triste Sempre à procura do teu corpo exato. Livra-me de ti. Que eu reconstrua Meus pequenos amores. A ciência De me deixar amar Sem amargura. E que me dêem Enorme incoerência De desamar, amando. E te lembrando - Fazedor de desgosto - Que eu te esqueça.
IX
Esse poeta em mim sempre morrendo Se tenta repetir salmodiado: Como te conhecer, arquiteto do tempo Como saber de mim, sem te saber? Algidez do teu gesto, minha cegueira E o casto incendiado momento Se ao teu lado me vejo. As tardes Fiandeiras, as tardes que eu amava, Matéria de solidão, íntimas, claras Sofrem a sonolência de umas águas Como se um barco recusasse sempre A liquidez. Minhas tardes dilatadas Sobreexistindo apenas Porque à noite retomo minha verdade: teu contorno, teu rosto álgido sim E por isso, quem sabe, tão amado.
X
Não é apenas um vago, modulado sentimento O que me faz cantar enormemente A memória de nós. É mais. É como um sopro De fogo, é fraterno e leal, é ardoroso É como se a despedida se fizesse o gozo De saber Que há no teu todo e no meu, um espaço Oloroso, onde não vive o adeus. Não é apenas vaidade de querer Que aos cinqüenta Tua alma e teu corpo se enterneçam Da graça, da justeza do poema. É mais. E por isso perdoa todo esse amor de mim E me perdoa de ti a indiferença.
Lú chegou ontem aqui na terrinha. As seis da madrugada (intervalo para suspiro profundo e sonolento).
Como da última vez que sujeita esteve aqui não conseguimos ( e acho que nem quisemos) ir para praia, desta vez radicalizei.
Biquinis à postos e três ônibus depois aterrisamos no Bessa. Barzinho gay amado. O atendimento péssimo de sempre.
Enfim... cervejinha e queijo empanado (viva a gordura trans!!!) embalaram a nossa conversa. Saudades assassinadas, pois.
Ligações e mobilizações várias e a outra S. nos reboca do lugar que segundo ela "só tem veado e ninguém pega ninguém". Encontramos T. e B., o casal gay mais lindo do mundo e nos debandamos para o litoral Sul.
Para quem não sabe, contarei.
Aqui na terrinha temos uma das poucas praias de nudismo do Brasil. Tambaba.
E foi para lá, munidas de toda nossa coragem e fingindo um ar blasé que nos encaminhamos...
Sim, ficamos nuas. Não, não foi constrangedor. Pelo menos depois das primeiras três horas e da quinta cerveja.
Quando nossa conta chegou (barzinho acima), uma conclusão veio junto. Caso já não estivéssemos peladas, provavelmente nesta hora teríamos ficado. Uma cerveja em lata custa a bagatela de R$ 3,50. Cedo ou tarde ou teríamos que vender nossas roupas ou pagar com o corpo.
Vestimos a roupa em protesto e fomos embora.
Mas uma dia voltaremos quem sabe...
P.S: Pérola Lulística: Mulher, não rola clima de paquera com o cara nú na sua frente. Tô mal-acostumada. Isso sempre me aconteceu depois da conversa, entende?
Hoje eu tô com a gota serena, como dizia minha sábia avó. Postando mais que a preta do leite, como diz minha sábia tia, cá bixiga lixa como já disse Seu Zé do fiteiro.
Então...
...presto aqui uma homenagem a meu ilustre e desconhecido visitante de Honolulu (Eu sou ricaaaaaaaa!!!!!!!!!!) e também à Lú, humilde, pobrinha e sem-teto, recolhida das ruas e salva da fome, do frio e da chuva por uma nobre e galante amiga, que no entanto não permaneceu no mesmo recinto que ela porque...
Conversa ontem. Eu, a outra S. Léo e Amigo A. na casa do último citado. Relacionamentos e velhice.
Léo concluindo que a idade nos tirou a energia de querer muito. Tipo assim: você está exausto depois de um dia de trabalho e não faz mais como aos vinte anos e esquece cansaço, larga as perspectivas de uma boa noite de sono e vai ficar junto do objeto dos seus desejos atuais.
Hurum...
Coincidentemente, algumas horas antes, eu tinha perguntado a outra S. quando foi que ela deixou de ir atrás de um cara que estava a fim só porque estava cansada.
- Nunca!- respondemos juntas.
Esclarecendo... esse papo começou por causa do homem-zen. Ele é amigo de Léo. Ele trabalhou muito ontem. Ele estava cansado. Ele ia viajar hoje. Ele não saiu conosco, pois...
Fala sério!
Confesso que Domingo eu não fui vê-lo pelo mesmo motivo.
Enfim, lembrei de uma outra amiga, dia desses, reclamando do namorado que quando estava trabalhando ou a tomava por um móvel ou a tratava com quase-estupidez.
Eu: - Ah, amiga, mas o cara está concentrado/cansado/(escolha o termo que preferir), né?
Ela: - Então ele só pode me tratar com delicadeza e me dar atenção nas férias? É isso?
Descobri que não preciso beber para escrever histórias de micos e loucuras. Não, não preciso. Mesmo. Minhas amigas cometem os micos e enfiam as caras na piscina da loucura por mim. E me contam. E pedem para que eu escreva à respeito (estranho... mas isso é assunto para um outro post).
Essa é da outra S.
Barzinho. Mesa com amigas. Cerveja em excesso. Ela olha do lado e vê o homem que povoa seus desejos todos desde sempre. Luciano. Ele. Enfim. Ao alcance das mãos e das vontades todas.
A outra S. chega junto e inicia a conversa e o jogo de sedução. Basicamente pergunta dos amigos em comum, dos planos, das novidades. Mais cerveja. E mais. Luciano responde as perguntas. Conversam mais, riem, bebem. Mais.
Dormem abraçadinhos. Ele a acorda com um café-da-manhã e um sorriso. E uma bomba.
- Sabe, gata, eu tenho uma coisa para te contar...
- Fala, Luciano- Diz ela já sentindo um breve princípio de pânico. Seria agora que ele iria se confessar casado. Gay. Com AIDS. Pior ainda, nunca mais querendo vê-la.
Ele não deixa de demandá-lo. Ele demanda mais...ainda.
(Lacan)
Olha,Rafa escreveu nesse post (em que me citou) que adora ser citado. Eu também, eu também, assumo. Por vezes nem sempre de forma assim, digamos assim...positiva, apesar de verdadeira, como a Caminhante nesse outro texto.
Ser citada com meu nome verdadeiro e sem link também vale e afaga o coração, apesar dela se intitular menina e mentira, essa pessoa é uma mulher com todas as implicações e terrores e prazeres que disso advém. Linda. E sabe de suas verdades. Ahhhh....Iza. Iza. Iza.
Enfim, essas menções virtuais me encantam e me encasquetam, por serem tão diversas. Através delas nos enxergamos no olhar do outro. Temos insights de nossas próprias versões, as reais, as inventadas e as inexistentes. A humanidade segue seu curso, indiferente e independentemente, mas algo dentro de mim é modificado/consolidado/analisado/sofrido por elas, as lembranças alheias de mim. Por eles.
Alguém que eu não conheço (como nos casos do Rafa e da Caminhante) ou que conheci primeiro "virtualmente" (como no caso de Iza), mas me sabe de um jeito estranho, pensou em mim.
Isso é importante, eu acho. E sinto.
P.S: Ah! A borboleta mais linda do meu mundo (todos eles) chega amanhã na minha casa. Na minha vida. Agradeço ao divino mais esse afago, essa benção, esse milagre. Mesmo antes de.
Vamos falar hoje de uma coisa séria. Crochet.Vejam bem, eu faço crochet. Gosto mesmo, passo horas entretida, procuro gráficos na internet, leio blogs sobre o assunto, possuo revistas “especializadas”.
O fato de nunca ter conseguido acabar nenhuma peça grande não que dizer nada. Mas hoje falando ao telefone com o homem-zen (sim!!!), ele se mostrou surpreso, quase chocado, com o fato. Léo comentou não me imaginar fazendo.
Só para constar. Eu cozinho muito bem, já fiz velas e vários “artesanatos” para o lar, faxino casa como ninguém, adoro decoração, entre outras coisitas comumente associadas às mulheres ditas “prendadas”.
Mas não acho que isso me faça menos ou mais nada.
Como também não acho que ser uma mulher bagunceira e não saber cozinhar nem pregar um botão, faz de alguém uma feminista.
Uma amiga veio me pegar em casa e rumamos para o show de Sacal e Gabriel, o pensador. Antes que me atirem pedras, só curti “Gabriel que pensa” quando tinha quinze anos (confessem que também já pecaram!). Queria mesmo era curtir o vozeirão do primeiro citado.
Enfim... paramos rapidamente nos fundos do palco para a sujeita-amiga entregar uma camiseta preta para o namorado que está trabalhando na produção dos eventos neste verão. Fiquei dividida entre o pasmo, a indignação e a admiração quando ela simplesmente recusou o convite de irmos para a área vip. Ok, ok, pensei... é cool quem pode.
Peguei meu queixo caído e fui humilde e comumente para a areia de praia, que era a terra que me cabia naquele latifúndio. Cheguei a tempo de escutar Sacal gritando: Valeu! O show tinha acabado. Merda!!!
Tentei me consolar com uma água mineral quente e fiquei observando os povos e povas. Que gente feia da porra!!! E todos trabalhados na transpiração e na marginalidade. Pensei em um amigo gay que certa vez me aconselhou a valorizar um cafuçú, mas aquilo já era demais para mim.
Tentando achar uma área mais clean, por assim dizer, me deparo com o homem que me jogou na parede e me chamou de lagartixa. Chamaremos o dito-cujo de homem-zen*, combinado? Ele me deu abraços demorados, vários beijos (no rosto), fungadas no cangote e alisadas nas costas. E eu amaldiçoando minha sobriedade e desejando um uísque. Duplo. Puro. Sem gelo.
Gaguejei algumas frases desconexas e fui atrás de um banheiro químico, ansiando por lugares em que você mija e existe papel higiênico e limpeza. Por vezes até espelho. Tipo assim, banheiro de área vip, sabecomuéqueé?
Votei por abandonarmos o show ainda não iniciado e irmos para um barzinho nosso velho conhecido. Sentamos, finalmente livre do populacho e pedimos uma cerveja. E eu, que diferente da amiga não sou auto-suficiente nem nada, nem sou mais eu (na verdade sou facinha, facinha), fiquei espichando os olhos e torcendo para o homem-zen aparecer. Nada.
Paguei a conta (R$ 10,00 de uma cerveja e um escondidinho de camarão, para que vocês saibam que oh! mais um dia sem ela encher a cara!) e vim para casa. Aí me deu insônia. Fiz crochê. Lí. Agora estou escrevendo para ver se paro de pensar no home-zen (porque ele é tãããããooo lindo, meudeusi???) e deixo Morfeu me conquistar.
É, minha noite não foi lá muito vip. Não mesmo.
* É que apesar de sua presença sempre ter me causado frio na barriga e mãos úmidas, ele me inspira calma. Toda do mundo. Contraditório?
Começaram os shows de verão aqui na terrinha. Ontem foi dia de Margareth Menezes na praia. Encontrei E. e seu gatinho e entre pensamentos de que minha vida social estava acabada, alternei água mineral, coca-cola e suspiros profundos durante os vinte primeiros minutos de música animada. Até que me flagrei pulando e rindo e caramba, realmente me divertindo.
A verdade é que ontem me impus um teste. Se eu conseguisse ficar sem beber ou bebesse muito pouco eu tinha “tendências” ao alcoolismo. Se eu não conseguisse resistir aos chamados de Baco, a situação era realmente séria e eu cortaria os pulsos ou viraria uma carmelita descalça no alto Himalaia. Bom, eu consegui. Bebi “apenas” duas cervejas até as seis da manhã e acordei hoje sem um pingo de ressaca e feliz da vida. Claro que sei que o fato de sair norteando minha noite entre beber ou não beber não é lá um bom indício, mas poxa, sejamos complacentes comigo, pelo menos por enquanto.
O fato é que foi uma experiência boa. Realmente. E curiosa. Uma grande quantidade de pessoas chegavam e perguntavam se eu estava triste. Minha resposta era: Não, estou sóbria. Acho que consegui notar o trabalho que dá encher a cara e artificializar alegria. É um gasto de energia tremendo, pensei com meus botões enquanto observava os personagens que desfilavam cambaleantes e gargalhantes durante a noite. Pelo menos ontem, foi fantástico não estar entre eles.
Ontem vaguei pelas lojas Americanas atrás de uma agenda pensando na ressaca que na quarta tinha me impedido de resolver as pendências que eu, munida de boas intenções tinha me comprometido a assassinar sem piedade.
Para apaziguar minha culpa, E. tinha ido trabalhar e me deixara trancada em sua casa. Eu tinha pois, me esparramado no sofá da amiga e assistido a sessão da tarde. No entanto aquela irritante vozinha repetia que acordar três da tarde não era um bom augúrio para as mudanças que eu tinha apregoado em alto e bom som aos amigos entre muitas cervejas e risadas.
Novamente tinha mentido para minha mãe e inventado um trabalho de urgência que me faria dormir fora de casa e enfim, recuperada apesar das olheiras, exterminar com aquelas obrigações chatas no dia seguinte.
Enfim, estava eu entre prateleiras da sessão de papelaria, depois de bancos e burocracias, quando encontro não um, mas dois livros de Marian Keyes em promoção. Comprei-os junto com um sabonete líquido que prometia fazer da minha pele uma seda e muito feliz emendei com um lauto almoço na praça de alimentação do shopping. Peguei um táxi (porque eu merecia) e cheguei em casa. Deitei na cama e abri um dos livros que se chama Férias! E me preparei para o entorpecimento emocional que só a sub-literatura é capaz de causar.
Grande erro!
As férias do tal livro eram passadas pela personagem numa clínica de reabilitação, e apesar do humor irlandês que me fez adotar essa escritora como uma das minhas preferidas, chorei como uma criancinha ao me reconhecer em tantos sentimentos e vergonhas e negativas e necessidade de compensações imediatas depois das frustrações ou obrigações (meus sais, o táxi e o almoço!) e finalmente a redenção (não esqueçam: sub-literatura).
Entre chocada e envergonhada tive enfim que admitir o que em oito anos de terapia não consegui. Sim, eu tenho problemas (e sérios) com bebida ou quaisquer outras substâncias que possam simplesmente fazer com que eu pare de sentir. Sim, eu me acho uma merda tão grande que procuro qualquer um que não me queira (ou queira da forma errada) para reafirmar isso para mim. Sim, eu estou cansada de não lembrar da noite anterior nem de saber de onde vieram as manchas roxas. Da culpa ou do alívio em faltar o trabalho por estar de ressaca.
Cristo Rei, eu sou uma alcoólatra (?!?!?!)
Como caralho eu vou reconhecer e administrar as coisas que doem de verdade dentro de mim? Os erros? Estou exagerando? É TPM?
Só o que sei é que estou com medo de verdade.
É ou não é um excelente começo de férias para esta que vos escreve?