quinta-feira, 31 de março de 2011
Vale dos Reis
segunda-feira, 28 de março de 2011
Para Hilda
Ponto alto
sexta-feira, 25 de março de 2011
Para M.
Letra: Hilda Hilst
Canta: Mônica Salmaso
Tenho meditado e sofrido
Irmanada com esse corpo
E seu aquático jazigo
Pensando
Que se a mim não deram
Esplêndida beleza
Deram-me a garganta
Esplandecida: a palavra de ouro
A canção imantada
O sumarento gozo de cantar
Iluminada, ungida.
E te assustas do meu canto.
Tendo-me a mim
Preexistida e exata
Apenas tu, Dionísio, é que recusas
Ariana suspensa nas tuas águas.
Galocha
Antigamente eu era eterno"
quinta-feira, 24 de março de 2011
Ainda de pé
terça-feira, 22 de março de 2011
Apnéia
Conheça e entenda seu desejos, foi o conselho que me deu o terapeuta na nossa primeira sessão, depois de quase um ano sem nos encontrarmos naquela sala tão minha conhecida. E foi assim que retornei aos mergulhos profundos dentro de mim. Apnéia emocional. Perco o fôlego por vezes, e é o trabalho que me enche os pulmões com as benções do cotidiano e do comum.
Já me deparei com muitos monstros nestas profundezas interiores. Mas também avistei lindos cardumes de espécies de sonhos desconhecidos. Descobri tesouros e lixo. Muito de ambos. Como desse mundo oculto e estranho podemos trazer muito pouco, escolhi submergir com tudo que me ajude a derrubar os muros até que nada reste do que construí para me esconder das minhas verdades “... que esse castelo só me prendeu, viu?”. Sozinha.
sábado, 19 de março de 2011
Medo
Querer (Pablo Neruda)
Não te quero senão porque te quero
E de querer-te a não querer-te chego
E de esperar-te quando não te espero
Passa meu coração do frio ao fogo.
Te quero só porque a ti te quero,
Te odeio sem fim, e odiando-te rogo,
E a medida de meu amor viageiro
É não ver-te e amar-te como um cego.
Talvez consumirá a luz de janeiro
Seu raio cruel, meu coração inteiro,
Roubando-me a chave do sossego.
Nesta história só eu morro
E morrerei de amor porque te quero,
Porque te quero, amor, a sangue e a fogo.
Luciana diz que me saboto. Ela tem razão. Ela é sábia e eu só sou uma mulher que enlouqueceu antes do tempo. Eu tinha vinte e três anos. De lá para cá a possibilidade da loucura é mais que licença poética.
A loucura me espia atrás de qualquer rompante, qualquer riso mais escandaloso ou pensamento que se comporte como cachorro atrás do próprio rabo. Só em cuidar para que não chegue, a loucura já se senta no sofá e pede café. Ao tentar varrê-la da minha casa/mente com boas ações e equilíbrio ela passa a se declarar moradora e coloca os pés na mesinha de centro.
Domingo eu coloquei tudo a perder. Eu queria aquele homem. Tanto, tanto.
Eu o odiei por isso.
Aí eu me rendi. Quinta-feira foi dia de voltar para a terapia. E chorar de medo. De mim, senhoras e senhores, de mim.
sexta-feira, 18 de março de 2011
Classificados
domingo, 13 de março de 2011
Zero
Engraçado... até eu me declarar feminista tudo estava bem naquela mesa... porque depois dessa minha fatídica afirmação o que eu falava passou a ser visto com outros olhos.
Se minhas piadas eram de fácil gargalhada outrora, agora exigiam segundos de analise crítica antes de quaisquer esboços de sorrisos... e ah, se fosse só isso... fui ousar contar do meu carnaval...
- Pois é, não lembro a origem do uísque, mas sei que o cara era de Brasília- Falo sorrindo
- ... (Primeiro homem da mesa)
-... (Segundo homem da mesa)
- Acho que a mulher tem que se valorizar, sabe? Você não precisa disso, já que você é uma mulher tão inteligente... (Terceiro homem)
- Não preciso de que? – Eu pergunto encafifada.
- Querer ser igual a um homem- Ele desabafa por fim.
Não resisto a gargalhar, porque este ser estava me contando antes de como tinha levado cinco mulheres para cama em menos de vinte e quatro horas. No carnaval.
- Baby, na boa? Minha cerveja eu já paguei e vou indo. Olha, nem rezo... mas acenderei velas se tua terceira mulher levar teu carro zero, ok?
Mas também há felicidades, não é?
Tatuagem
Teve um livro que li há uns tempos atrás, que comprei como erótico...e não o era. Ou sim, quem entende os seres humanos... Sei que nele uma mulher trepava com um cara da religião que tinha matado seu marido.
Quando ela fala do desejo de fuder o cara e literalmente o faz com dedos e cabides e lágrimas eu me choquei. Doce e meiga que era eu me choquei. Com o ódio que se transforma em desejo.
Como podia ser? Não era tudo amor?
Não?
Mas certas coisas aconteceram... te contei que não sou mais boa? E hoje é isso que eu mais desejo. Enfiar-te algum pau que em mim inexiste e que te faça suplicar. Por mais. Por menos. Que eu pare. Algo que te doa tanto que faça você implorar que eu desista.
Você implorando e eu rindo sadicamente. Penso e rio novamente...
Inveja do seu pau? Não, baby... ódio. De nós dois. E de tanto carinho que me fez chorar...
Triste, não é? Que eu agora só o lembre assim?
Marquei minha sexta tatuagem para o mês que vem... meu braço direito inteiro...o mapa da minha terra para que eu me encontre...
Triste, não é? Que eu agora só me encontre assim?
Mas como eu falei para outro hoje. Meu lema: Antes dor na pele que na alma.
Você ri da minha cara e diz: A mesma coisa, baby... a mesma coisa...
Triste, não é?
sexta-feira, 11 de março de 2011
Síndrome
Numa turma de 35 alunos do sexto ano, para mim a mais difícil de trabalhar, está ele, esse meu aluno.
F. tem síndrome de Asperger. Soube-o pela diretora assim que entrei na escola.
Estava quase desistindo de tentar ensiná-lo algo, já que sempre me pareceu que seu entendimento sobre os conceitos, tarefas e exercícios era tão pessoal quanto... pessoal.
Para quem não sabe o portador da síndrome tem uma grande dificuldade com as abstrações... imagine então lecionar artes visuais para alguém assim. A loucura me aguarda, imaginava sempre depois de cada aula.
Também me preparei para manter um distanciamento que o deixasse... digamos... confortável, já que além da interpretação muito literal da linguagem e a dificuldade com mudanças, outros dos sintomas da tal síndrome são a dificuldade de interação social e a falta de empatia. E poxa, ele parecia mesmo não ir muito com minha cara. Mesmo.
Hoje, depois de dez aulas seguidas, a turma de F. era a última antes que eu usasse o resto das minhas forças para me arrastar de volta para casa e mergulhar no sono dos destruídos. Entrei, comecei uma explicação qualquer sobre fundamentos da linguagem visual, quando ele levanta de sua cadeira e me abraça, dizendo:
- Professora, senti tanto sua falta esses dias...
Mantive a pose, tentei ajudá-lo com as atividades assim como aos outros. Mas antes de ir embora, chorei escondido e molhado no banheiro dos professores.
F. me devolveu.
quarta-feira, 9 de março de 2011
doidasdevez.com.br
Percepção
E qual é a música, maestro?
"...Então não pare de ser um homem
Apenas dê uma olhadinha para outro lado quando você puder
Mostre um pouco de ternura
Não importa se você chorar
Dê-me uma razão para amar você
Dê-me uma razão para ser... uma mulher
Eu só quero ser uma mulher
Isso é tudo que quero ser, é tudo, uma mulher
Este é o começo de todo o sempre.
É hora de seguir adiante
Então eu quero ser
Estou tão cansada de brincar
Brincar com esse arco e flecha
Vou dar meu coração embora
Deixar outras garotas brincarem
Eu fui uma tentação por muito tempo..."
sexta-feira, 4 de março de 2011
Formigas
"Porque há desejo em mim, é tudo cintilância.
Antes, o cotidiano era um pensar alturas
Buscando Aquele Outro decantado
Surdo à minha humana ladradura.
Visgo e suor, pois nunca se faziam.
Hoje, de carne e osso, laborioso, lascivo
Tomas-me o corpo. E que descanso me dás
Depois das lidas. Sonhei penhascos
Quando havia o jardim aqui ao lado.
Pensei subidas onde não havia rastros.
Extasiada, fodo contigo
Ao invés de ganir diante do Nada. "
Oh, para quem é? Perguntarão alguns, talvez você...