quinta-feira, 31 de março de 2011

Vale dos Reis

Eu dando aula no sexto ano hoje. Arte do Egito Antigo. Mostro as imagens dos tesouros descobertos no Vale dos Reis. Falo de Tutacamon e da arte funerária desse povo. Dos deuses. Da crença na reencarnação. As crianças se impressionam com o fato deste faraó ter morrido tão cedo, com apenas dezenove anos.
- Mas ele está no céu com Jesus, não está professora?
- ...

segunda-feira, 28 de março de 2011

Desaforo

Então no final tudo se resume a sexo, não é Freud, seu filho da puta?

Para Hilda

És tú que contas de meus sumos e são tuas palavras que da minha boca escorrem quando os desejos são tão excessivos que nem suores nem mãos molhadas nem banhos frios nem minha nudez líquida podem mostrar do que é feita essa vontade
de mim no outro e do oceano inteiro
em nós.

Ponto alto

Pois é. Tudo um dia acaba.
A porra do anti-depressivo me tirou mesmo o tesão.
Sério, muito... muito sério...
Cheguei ao ponto de reler a casa dos budas ditosos para testar-me e oh! só me excitei (e metaforicamente) com a técnica literária do Ubaldo. Neguei um convite fofinho (muito educadamente, claro!) de dividir a cama com um adorável casal. Não olhei para os moços bonitos do show na sexta e me flagrei saindo com minhas calçolas mais velhas por estes dias.
Comprarei uma cadeira de balanço e me entregarei de vez ao chochê. Mas feliz, saltitante e rindo sabiamente em comunhão com os poderes da santa alopatia pesada.
E afinal de contas, me respondam do fundo de seus corações, quem precisa de sexo quando se pode ter uma bolsa em ponto alto?

sexta-feira, 25 de março de 2011

Para M.

Para M.
Artista. Poeta. Retratista.



Canção IX

Letra: Hilda Hilst
Canta: Mônica Salmaso

Tenho meditado e sofrido
Irmanada com esse corpo
E seu aquático jazigo
Pensando
Que se a mim não deram
Esplêndida beleza
Deram-me a garganta
Esplandecida: a palavra de ouro
A canção imantada
O sumarento gozo de cantar
Iluminada, ungida.
E te assustas do meu canto.
Tendo-me a mim
Preexistida e exata
Apenas tu, Dionísio, é que recusas
Ariana suspensa nas tuas águas.

P.S: Para baixar o CD inteiro, produzido por Zeca Baleira com várias divas Brasileiras cantando Hilda Hilst copie o link abaixo no seu navegador retirando os espaços
http:// rapidshare . com /files/77110276/UQT2006_Ode_Descontinua_e_Remota.rar

Galocha

Independente dos textos acabrunhados e meio blues que estava escrevendo por aqui esses dias, na verdade tenho andado até que bastante bem-humorada e metida a engraçadinha. No entanto, fico mais na minha, meio que à espreita da vida e dos acontecimentos todos.
Hoje acordei achando que tinha saído ontem.
Doideiras, baby, doideiras...
Mas enfim... a grande expectativa é a viagem para o Rio em Setembro com e para casa do Rafa. Contei que Rafa e eu noivamos? Com direito a anúncio em facebook e promessa de flor de laranjeira, padre, ave-maria e champanhe (basta de Sidra Cereser na minha vida!!! Se fui pobre, eu não lembro!!!).
Longos prazos para as boas coisas.
Como Rafa, amor dos amores, alma gêmea, lindo de marré descer, não podia ser perfeito, e portanto gosta da mesma fruta que eu, providenciei para que um outro Rafa, amor virtual desde sempre, me encontre por lá e eu tenha uma lua-de-mel com sexo, que não sou boba nem nada.
E hoje aqui na terrinha tem show de Roberta Sá. Me flagro nem um pouco a fim de ir, acreditam? Pois acreditem!
Esta semana também comecei a escrevinhar uma lista para uma pseudo-festa de aniversário dia 21. Pouca gente, amores e amoras, pouca gente. Ou estou ficando seletiva e amadurecendo ou virei uma grandíssima chata de galocha.
É como disse Leminski:

"Abrindo um antigo caderno
foi que eu descobri:
Antigamente eu era eterno"

Complemento abusadamente: Mas hoje eu sou só alguém que sofreu demasiado.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Inferno

Sabia que falta menos de um mês para meu aniversário?
Inferno astral é? Ah, vai se fuder!

Ainda de pé

Dez aulas seguidas com o pé inchado e torcido pensando nas oito provas que teria que elaborar ainda hoje assim que chegasse em casa.
Dois ônibus e quatro horas depois...
O pé está mais inchado ainda. Só três provas até agora. Elaboro um pensamento: Meu reino por uma cerveja...

terça-feira, 22 de março de 2011

Apnéia

Conheça e entenda seu desejos, foi o conselho que me deu o terapeuta na nossa primeira sessão, depois de quase um ano sem nos encontrarmos naquela sala tão minha conhecida. E foi assim que retornei aos mergulhos profundos dentro de mim. Apnéia emocional. Perco o fôlego por vezes, e é o trabalho que me enche os pulmões com as benções do cotidiano e do comum.

Já me deparei com muitos monstros nestas profundezas interiores. Mas também avistei lindos cardumes de espécies de sonhos desconhecidos. Descobri tesouros e lixo. Muito de ambos. Como desse mundo oculto e estranho podemos trazer muito pouco, escolhi submergir com tudo que me ajude a derrubar os muros até que nada reste do que construí para me esconder das minhas verdades “... que esse castelo só me prendeu, viu?”. Sozinha.

sábado, 19 de março de 2011

Medo

Querer (Pablo Neruda)

Não te quero senão porque te quero
E de querer-te a não querer-te chego
E de esperar-te quando não te espero
Passa meu coração do frio ao fogo.
Te quero só porque a ti te quero,
Te odeio sem fim, e odiando-te rogo,
E a medida de meu amor viageiro
É não ver-te e amar-te como um cego.
Talvez consumirá a luz de janeiro
Seu raio cruel, meu coração inteiro,
Roubando-me a chave do sossego.
Nesta história só eu morro
E morrerei de amor porque te quero,
Porque te quero, amor, a sangue e a fogo.


Luciana diz que me saboto. Ela tem razão. Ela é sábia e eu só sou uma mulher que enlouqueceu antes do tempo. Eu tinha vinte e três anos. De lá para cá a possibilidade da loucura é mais que licença poética.

A loucura me espia atrás de qualquer rompante, qualquer riso mais escandaloso ou pensamento que se comporte como cachorro atrás do próprio rabo. Só em cuidar para que não chegue, a loucura já se senta no sofá e pede café. Ao tentar varrê-la da minha casa/mente com boas ações e equilíbrio ela passa a se declarar moradora e coloca os pés na mesinha de centro.

Domingo eu coloquei tudo a perder. Eu queria aquele homem. Tanto, tanto.

Eu o odiei por isso.

Aí eu me rendi. Quinta-feira foi dia de voltar para a terapia. E chorar de medo. De mim, senhoras e senhores, de mim.


sexta-feira, 18 de março de 2011

Classificados

Eu quero aquela casa alí, de muro-baixo por sem medo e casal sorridente dentro. Eu quero ser aquela mulher, aquela alí, que preparou o café-da-manhã com cusuz vitamilho e margarina delícia e beijou os filhos e alimentou o cachorro e as promessas num ouvido de homem para logo mais à noite.
Eu quero um regador azul e um jambeiro com uma corda amarrada que sirva de balanço e não de forca.
Eu quero o simples. Mas eu não sou.

domingo, 13 de março de 2011

Pagã, mas...


Zero

Engraçado... até eu me declarar feminista tudo estava bem naquela mesa... porque depois dessa minha fatídica afirmação o que eu falava passou a ser visto com outros olhos.

Se minhas piadas eram de fácil gargalhada outrora, agora exigiam segundos de analise crítica antes de quaisquer esboços de sorrisos... e ah, se fosse só isso... fui ousar contar do meu carnaval...

- Pois é, não lembro a origem do uísque, mas sei que o cara era de Brasília- Falo sorrindo

- ... (Primeiro homem da mesa)

-... (Segundo homem da mesa)

- Acho que a mulher tem que se valorizar, sabe? Você não precisa disso, já que você é uma mulher tão inteligente... (Terceiro homem)

- Não preciso de que? – Eu pergunto encafifada.

- Querer ser igual a um homem- Ele desabafa por fim.

Não resisto a gargalhar, porque este ser estava me contando antes de como tinha levado cinco mulheres para cama em menos de vinte e quatro horas. No carnaval.

- Baby, na boa? Minha cerveja eu já paguei e vou indo. Olha, nem rezo... mas acenderei velas se tua terceira mulher levar teu carro zero, ok?

Mas também há felicidades, não é?

"...Aqui nessa tribo
Ninguém quer a sua catequização
Falamos a sua língua,
Mas não entendemos o seu sermão
Nós rimos alto, bebemos e falamos palavrão
Mas não sorrimos à toa
Não sorrimos à toa..."


Tatuagem

Teve um livro que li há uns tempos atrás, que comprei como erótico...e não o era. Ou sim, quem entende os seres humanos... Sei que nele uma mulher trepava com um cara da religião que tinha matado seu marido.

Quando ela fala do desejo de fuder o cara e literalmente o faz com dedos e cabides e lágrimas eu me choquei. Doce e meiga que era eu me choquei. Com o ódio que se transforma em desejo.

Como podia ser? Não era tudo amor?

Não?

Mas certas coisas aconteceram... te contei que não sou mais boa? E hoje é isso que eu mais desejo. Enfiar-te algum pau que em mim inexiste e que te faça suplicar. Por mais. Por menos. Que eu pare. Algo que te doa tanto que faça você implorar que eu desista.

Você implorando e eu rindo sadicamente. Penso e rio novamente...

Inveja do seu pau? Não, baby... ódio. De nós dois. E de tanto carinho que me fez chorar...

Triste, não é? Que eu agora só o lembre assim?

Marquei minha sexta tatuagem para o mês que vem... meu braço direito inteiro...o mapa da minha terra para que eu me encontre...

Triste, não é? Que eu agora só me encontre assim?

Mas como eu falei para outro hoje. Meu lema: Antes dor na pele que na alma.

Você ri da minha cara e diz: A mesma coisa, baby... a mesma coisa...

Triste, não é?

"A voz dela assustou-a; parecia sua própria voz, porém muito mais grave e gutural do que o normal. Estava zangada com ele, enraivecida por ele ter interrompido seus pensamentos quando estava prestes a descobrir uma grande verdade. Sobre ele. Sobre ela. Tudo irremediavelmente perdido.
Sem saber mais o que fazer consigo mesma, pegou o arame e começou a açoitá-lo nos lados, sem muita força, mas com força suficiente para tirar uma gota de sangue a cada açoite. Ele se mexia para a frente e para trás na cama, mas não deu uma só palavra, não pediu que ela parasse. Ela percebeu, aqueles movimentos produziam um efeito íntimo e estranho na sua própria respiração; o mero fato de observá-lo se mexendo para frente e para trás quando ela o vergastara mudara os ritmos de sua respiração. Sentia o sangue pulsar-lhe nas veias, com um passo acelerado cada vez que o arame encostava no corpo dele, a cada gota de sangue que escorria. Porém uma certa formalidade invadira seus sentidos. Tinha a impressão de estar desempenhando um ritual com aquele homem, um ritual de certo modo tão formal e complexo quanto um minueto antigo."
Encontro-Claire Tristan

Morte

Quer mesmo saber, porra?


sexta-feira, 11 de março de 2011

Síndrome

Numa turma de 35 alunos do sexto ano, para mim a mais difícil de trabalhar, está ele, esse meu aluno.

F. tem síndrome de Asperger. Soube-o pela diretora assim que entrei na escola.

Estava quase desistindo de tentar ensiná-lo algo, já que sempre me pareceu que seu entendimento sobre os conceitos, tarefas e exercícios era tão pessoal quanto... pessoal.

Para quem não sabe o portador da síndrome tem uma grande dificuldade com as abstrações... imagine então lecionar artes visuais para alguém assim. A loucura me aguarda, imaginava sempre depois de cada aula.

Também me preparei para manter um distanciamento que o deixasse... digamos... confortável, já que além da interpretação muito literal da linguagem e a dificuldade com mudanças, outros dos sintomas da tal síndrome são a dificuldade de interação social e a falta de empatia. E poxa, ele parecia mesmo não ir muito com minha cara. Mesmo.

Hoje, depois de dez aulas seguidas, a turma de F. era a última antes que eu usasse o resto das minhas forças para me arrastar de volta para casa e mergulhar no sono dos destruídos. Entrei, comecei uma explicação qualquer sobre fundamentos da linguagem visual, quando ele levanta de sua cadeira e me abraça, dizendo:

- Professora, senti tanto sua falta esses dias...

Mantive a pose, tentei ajudá-lo com as atividades assim como aos outros. Mas antes de ir embora, chorei escondido e molhado no banheiro dos professores.

F. me devolveu.

quarta-feira, 9 de março de 2011

doidasdevez.com.br

S. diz:

preciso ser internada? tô doida de vez?
pq acho mesmo que é loucura acreditar que tudo é conosco

luciana diz:

amiga, precisamos, claro
porque né
esse mundo virtual deixa tudo muito doido
e nós - por mais que tentemos nos adaptar - não dominamos
nós crescemos em outra língua
que envolvia corpo e som
e entonação
mas como não acreditar... nós simplesmente não sabemos

S. diz:

agora nós podemos entonar a nosso modo
qualquer grito de acorda, porra!
pode soar como musica carinhosa

luciana diz:

exato
kkkkkkkkkkkkkkk

Percepção




Apesar da capacidade de fazer com que soem engraçadas as histórias mais terríveis não tenho ânimo para tal. Estou cansada.
Não agüento mais as porradas do mundo, apesar de saber que ultimamente sou eu que tenho insistido em dar a cara a tapa...
Ainda agora, logo depois de começar este post, uma amiga liga e discorro roucamente no telefone a minha decepção. Falo dessa percepção da crueldade, da maldade em sua forma mais triste e simples, que enxerguei sem lentes de proteção. No mundo. E nas pessoas.
Sim, eu estou assustada, amiga. Muito.
Me assumo como crédula, romântica, quase uma ingênua. E conto deste carnaval.
Depois dele, alguma barreira construída há muito, muito tempo para proteger-me da realidade e que represava mares de verdade se rompeu. Tudo, todos os terrores invadiram-me de vez. Desde ontem, quando voltei para casa, tenho tentado catar como uma desabrigada algum vestígio de ilusão para costurar agasalhos, abrigos de esperança. Falta-me a linha, falta-me pano, falto-me para tal.
Queria muito algum sussuro no ouvido que disesse, que prometesse que tudo ia ficar bem. Que foram apenas maus dias... Talvez... apenas talvez eu pudesse acreditar.

E qual é a música, maestro?

"...Então não pare de ser um homem
Apenas dê uma olhadinha para outro lado quando você puder
Mostre um pouco de ternura
Não importa se você chorar

Dê-me uma razão para amar você
Dê-me uma razão para ser... uma mulher
Eu só quero ser uma mulher
Isso é tudo que quero ser, é tudo, uma mulher

Este é o começo de todo o sempre.

É hora de seguir adiante
Então eu quero ser

Estou tão cansada de brincar
Brincar com esse arco e flecha
Vou dar meu coração embora
Deixar outras garotas brincarem

Eu fui uma tentação por muito tempo..."

sexta-feira, 4 de março de 2011

Formigas

Certas e muitas formigas me mordem (ou picam... nunca sei...).

O computador me dá choques que ecoam a frase: Não faz... não faz... não faz isso...

Mas...

DO DESEJO

"Porque há desejo em mim, é tudo cintilância.
Antes, o cotidiano era um pensar alturas
Buscando Aquele Outro decantado
Surdo à minha humana ladradura.
Visgo e suor, pois nunca se faziam.
Hoje, de carne e osso, laborioso, lascivo
Tomas-me o corpo. E que descanso me dás
Depois das lidas. Sonhei penhascos
Quando havia o jardim aqui ao lado.
Pensei subidas onde não havia rastros.
Extasiada, fodo contigo
Ao invés de ganir diante do Nada. "

Oh, para quem é? Perguntarão alguns, talvez você...

A melhor pergunta é simples assim:

"Te cabe?"

Quem és? Pergunto ao desejo.

Respondeu ele: "Lava. Depois pó, Depois nada."

quinta-feira, 3 de março de 2011

Trânsito

Os dias seguem seu curso.

Os trânsitos astrológicos em engarrafamentos enlouquecidos e eu tentando atravessar as ruas do meu futuro, presente e passado. Sem morrer atropelada por sonhos vãos.

Planos de aula, exaustão e rouquidão. Deixar de ir para festas porque amanhã é cedo demais.

Desistência de carnaval em Recife. Casa... casa.. casa...

Mas hoje foi dia de casa de T. e B., o casal amado, tomando cerveja com a amiga-esposa e eles, ambos amados. Pouca Cerveja que o dia logo chega.

Quem vem? Quem vem? Alguém?
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