Quando cheguei na minha cidade, a primeira coisa que notei foi a extrema sujeira e as indelicadezas cotidianas, no ônibus, no meu prédio, na minha vida. Coisas que antes me passavam desapercebidas pelo costume do estar. Mas vinda de Mossoró, cidade absurdamente limpa e de Canoa Quebrada, lugar absolutamente sorridente e amoroso, tudo aqui, à primeira vista me pareceu mau-humorado e repleto de falta de higiene e cuidados. Aos poucos os resquícios da minha zona de conforto e os reconhecimentos vários, como o situar-me em certas esquinas e lugares, conseguiram me apaziguar.
Joguei a mala na sala, tirei a roupa de viagem e tentei dormir.
Sonhei que meu ex-marido me ameaçava com facas e dramas. Acordei chorando e tive que tomar banho e ir trabalhar. Fui competente e todos me acharam sorridente e bem-disposta e bronzeada. Não deixa de ser verdade. Canoa Quebrada me encheu de energias boas, mas aqui, agora, parece-me que falta algo. Uma espécie esquisita de saudade do futuro.
Como um algo que reconheci lá em pequenos gestos, em pequenos detalhes, que farão com que aqui, eu só aproveite a energia reposta até poder retornar.
Novamente estrangeira. Novamente...
Até quando?
" Será que, à medida que você vai vivendo, andando, viajando, vai ficando cada vez mais estrangeiro? Deve haver um porto. "
Caio Fernando Abreu
4 comentários:
Eu acho que sim, vamos ficando mais estrangeiros (aliás, eu creio que já comecei assim). E, ainda, acredito que nosso único porto é o Outro. Como li uma vez e me apaixonei:
"Um post para te dizer que tens sido o meu barqueiro, umas vezes; o barco, outras tantas; algumas, ainda, o porto; pelo meio, os remos ou a vela. Um post, apenas, para deixar aqui escrito, (...) que, quer sejas barco, porto, velas, remos ou barqueiro, amanhã, quando te olhar, será Primavera. Não há cinzento que resista ao teu olhar"
E vamos correr com a vida pra chegar logo dia 24, né?
Sei não, pior de tudo é que esses pequenos gestos tipo um bom dia com um sorriso no rosto fazem tanta diferença...
Querida S., o porto é onde estamos, onde pousamos pela última vez, pois podemos ser estrangeiros para os outros, mas de alguma maneira sempre nos pertencemos ao lugar que nos acolhe e ele nos pertence da mesma maneira, portanto, o porto é onde estamos...
Abraços, Nanda
Já sei que encontrei meu porto, fora sinto saudades, na iminência de viajar me sinto tensa. Amo este lugar.
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