quarta-feira, 23 de junho de 2010

Olha pro céu, meu amor...*

Gripe. Corpo mole e cama o dia inteiro. Já escuro, entendo finalmente que terei que dar conta sozinha da minha necessidade de uma hora ter que comer e de um bom anti-gripal. Bom, geladeira vazia, não tenho armarinho de remédios, carteira tilintando apenas moedas vãs. Então, arrasto então meu corpinho febril para debaixo do chuveiro, e um pouco, apenas um pouco menos zumbi, encaro os degraus do meu prédio rumo ao caixa eletrônico.
O barulho dos fogos enquanto eu me ensaboava devia ter me alertado. Ou então o telefonema para a amiga que me disse estar indo para Campina Grande. Mas talvez porque estou doente, talvez porque resolvi não me programar, talvez porque afinal de contas eu esteja mesmo enlouquecendo aos poucos, eu tinha realmente conseguido abstrair do fato. É véspera de São João, baby!
Para quem não é do Nordeste, é difícil descrever como as cidades (principalmente a que moro) ficam nesse dia do ano. Reveillon perde longe, pode crer. Eu andando até o shopping do meu bairro e á medida que passava pelas ruas, fogueiras eram acesas. Um negócio surreal quando somado aos pulos que eu dava cada vez que alguém soltava uma bombinha.
Mas fica pior. Chego ao meu destino e adivinha? Shopping fechado. Claro que sim, quem afinal iria pular aquelas fogueiras todas senão os funcionários das lojas de roupa feminina, masculina e sapatarias? Merda. No Money, lindinha.
Resolvo voltar pelo caminho menos perigoso (a rua principal do meu bairro), o que evitaria encarar o inferno de Dante que enfrentei ao escolher as ruas, digamos, mais família. Ou alguém seria louco de acender uma fogueira em frente a uma parada de ônibus? Torci que não.
Ví pessoas numa padaria discutindo pela última canjica enquanto rumava para o Carrefour, afinal de contas, pensei, em termos de exploração de funcionários, sempre podemos contar com as grandes redes de supermercados, não é mesmo? Batata! Estava aberto e operante. O Carrefour, mas não o banco 24 horas. No Money again, lindinha.
Resolvo me conformar com meu triste destino. Paro na barraquinha perto de casa, viro a carteira e as moedas se espalham no balcão. Conversa interessante com Dona L. enquanto contávamos minha fortuna. R$ 7, 35. Comprei cigarro e duas cervejas. Ouxe, você se perguntará, ela não estava doente? E vai fumar? E beber?
Amor, podes crer que a fumaça do meu pobre cigarrinho, nada será perto da que toma conta dos céus do meu bairro. É quase uma Gramado ou Campos de Jordão em pleno Inverno no Sul. Cerração total. No meu apartamento, pode-se nesse momento defumar vários embutidos, é só trazer. Ou seja, se estava doente hoje, amanhã estarei bem pior. E as duas cervejas também são artigos de primeira necessidade para acalmar meus nervos que serão abalados por fogos, muitos, muitos fogos, madrugada adentro.
Quer morrer baby? Tá cansada(o) da sua vida horrível e sem sentido? Se você tem alergia, rinite, está gripada(o) ou tem problemas cardíacos (lembre-se dos fogos!), vem para o Nordeste na véspera de São João, você acordará dia 24 no céu ou no inferno (sei lá como foi tua vida) e tua família ainda fica com o dinheiro do seguro, já que não foi, digamos, um suicídio em termos literais.

* O titulo deste post é uma homenagem à amiga. É a primeira frase de uma música que é a cara do São João aqui no Nordeste e que ela lembra de ter tocado ao longe, na cidade que nasceu e ainda morava (o maior São João do mundo), enquanto ela estava na parada de ônibus, logo depois de ter saído do cinema, onde se deparara com o amor da sua vida (na época) com outra mulher. Pois é, essa também pode ser uma música triste.

4 comentários:

Emilly Moura disse...

kkkkkkkkkkkkk to rindo até agora.. mas nao pela sua situação, mas sim pela forma com vc escreveu isso tudo. Eu já sofri com essa fumaça toda, hoje em dia nem ligo mais.

[Quer morrer baby? Tá cansada(o) da sua vida horrível e sem sentido? Se você tem alergia, rinite está gripada(o) ou tem problemas cardíacos (lembre-se dos fogos!), vem para o Nordeste na véspera de São João, você acordará dia 24 no céu ou no inferno (sei lá como foi tua vida) e tua família ainda fica com o dinheiro do seguro, já que não foi, digamos, um suicídio em termos literais. ]


Quanto a inveja... hum... Pelo menos eu gosto muito dessa "barulheira" toda.

Bjos e melhoras!!

Luciana Nepomuceno disse...

Querida, eu fico totalmente "zuruó" com tantos fogos...aqui também é uma loucura de festa. Já estou preocupada com sua saúde amanhã. Não sou hábil em todos os tipos de cuidado, não sei fazer canjinha nem tirar a temperatura com aqueles termometros antigos, mas divido as cervejas habilmente...

Ultra disse...

M-u-i-t-o bom! KKKKKKKK passei a mesma coisa ontem com dor de cabeça e fogos. Tudo junto.
Ow, minha fia acordou bem hoje? Não fica assim que eu tô voltando.

Sara-cura disse...

O bom é que tantas vezes quantas forem o céu nunca será o mesmo, então tenho medo não olho pro céu, meu amor, e hoje vejo o quanto ele esta lindo, mesmo cinza, mesmo frio.

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