sexta-feira, 18 de junho de 2010

Cães

Eles levaram os filmes para assistir em casa. Primeiro porque eu encolhida e com medo embaixo de um lençol, no tapete, me recusei a deixá-los invandir meu esconderijo sóbrio e infantil, onde disfarcei a vontade de gritar até desmaiar. Alí estavam protegidos meus terrores, embaixo de um algodão verde florido, meu corpo que tremia, meu coração que batia acelerado.
Meus terrores também estavam na minha frente, naquelas duas figuras de homens, que de repente viraram um só.
Porque mesmo em pânico, eu foquei e soube. Soube mesmo quem era.
E me assustou ainda mais ver bandeiras brancas desfraldadas na mão de ambos. A quase ternura escondida na ironia característica dos dois. Eles tinham vindo me oferecer conforto e risos, depois dos meus telefonemas bêbados e acusatórios. Então me deu uma vontade enorme de chorar porque eles realmente não sabiam como fazer aquilo. Eles entendiam meu desepero. Merda.
Me visto com as roupas da prepotência e da loucura e me ergo e conto piadas a respeito de mim mesma. Ácida. Então como saídos de um transe, vestimos todos nossas fantasias preferidas. Palhaços. Todos nós.
Mas existe algo aqui que não compreendo. Existe algo aqui além do alcance da minha racionalidade. Estamos todos muitos assustados com esse mundo louco e mal? Estamos com medo um dos outros? O universo inteiro cabe dentro do outro. Toda a maldade e todo o bem e toda a delicadeza e toda a crueldade. -Pensei. Não, não pensei, eu senti. Por um milionésimo de segundo tudo esteve tão claro nesse sentimento. Quase uma conversão.
Mas não aceitei nada e os acompanhei até a saída. Vão embora que eu não consigo mais, não hoje, entendem, porra? Eu não sou essa. Exijam a verdade sobre mim. Eu exijo a verdade de vocês. De você.- quase grito. Mas sorrio educada e sensual e fecho o portão.
Então lembro do outro Caio, além do menino abusado que descobri estar apaixonada: "Não te castiga assim, está tudo em paz. Nunca houve cães. É como uma cantiga de ninar nas cinzas do fim do mundo."

2 comentários:

Leonardo Xavier disse...

Historinha complicada e cheias de reviravoltas, essa viu! Enfim, boa sorte para você e espero que tenha final feliz.

um abraço

Luciana Nepomuceno disse...

Pensei assim (Mesmo Simone sendo meio brega):

Estou fora de mim, por aí com você por dentro.
Vou ao centro do que você vê, mas se lê no vento.
Nesse momento eu sou venenosa,
Você não vai me esquecer agora.

Não pense mais, foi a minha intuição.
Nunca se desvenda um coração assim.
Olhe pra mim, sobram cinco palavras:
Um desejo só não basta.

Bjs e bjs torcendo por você...

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