Estou no sertão Paraibano produzindo um evento de artes visuais. Estou cansada e pouquinha. Seca. Esturricada.
E foi por aqui, onde estou há quase quinze dias que levei o fora mais original da minha vida.
- Não, não vou te beijar porque eu posso me envolver com você...
Vontade de dizer: -E, quem disse que?
Mas sabe como é, né? Eu sou uma covarde. E estava bêbada.
Eu sou uma mulher madura, mentira, uma menina ridícula... e isso é só mais uma das coisas que envolvem tomar a iniciativa, em ser tanto de tantas, tento me convencer.
Nada.
É que hoje eu me sinto tão só, tão só, que nem enchendo-me de palavras, as minhas e as alheias, o oco passa. E eu quero sim, ceder... ser menos para ser mais que uma só...
Então folheio Clarice para não sair correndo das minhas decisões e me enfiar me qualquer forma que me ofereçam:
"Estremeço de prazer por entre a novidade de usar palavras que formam intenso matagal. Luto por conquistar mais profundamente a minha liberdade de sensações e pensamentos, sem nenhum sentido utilitário: sou sozinha, eu e minha liberdade.
É tamanha a liberdade que pode escandalizar um primitivo, mas sei que não te escandalizas com a plenitude que consigo e que é sem fronteiras perceptíveis.
Esta minha capacidade de viver o que é redondo e amplo - cerco-me por plantas carnívoras e animais legendários, tudo banhado pela tosca e esquerda luz de um sexo mítico.
Vou adiante de modo intuitivo e sem procurar uma idéia: sou orgânica. E não me indago sobre os meus motivos. Mergulho na quase dor de uma intensa alegria – e para me enfeitar nascem entre os meus cabelos folhas e ramagens"...
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