quinta-feira, 19 de maio de 2011

Quadro

"[There is no simple for me]"

Eu sabia que seria estranho. Você não fode nem trepa, faz amor, me contou na primeira noite que não saiu de cima de mim. Metaforicamente falando, of course. E eu olhando estranho seu jeito estranho de me olhar, como se fosse uma mentira o que te flagrava desvelando entre cervejas e joelhos que se encostavam.
Você pinta e eu abomino suas criações, não quero ser mais uma, falei em tom de brincadeira de artista contemporânea cool. Mas era verdade. Aí teve o beijo, teve a porra do seu beijo. E você beijando e falando e salivando que falar trepar e fuder era vulgar e eu levantando a mão: presente. Te mostrei meu sutiã vermelho e rimos.
Mais beijos, meu short arriado e seu desejo em me agradar. Eu indo embora do carro-esconderijo-bolha de sabão rindo da amiga chapada de maconha e a noite, uma outra risada, mais discreta e pessoal, antes de dormir, ao lembrar do seu jeito de pirata riponga, com pássaro em cima do ombro. Literalmente.
Então seu telefonema "só para escutar minha voz" e eu fria fugindo da sua. Estou trabalhando.
Mas aí teve hoje.
Em que você me recebeu em seu abraço e massageou meus pés e puta que o pariu, golpe baixo, como disse outra amiga mais tarde, você os beijou. Ferrou, meu nego, eu já estava nas suas mãos. Eu me peguei adolescente fazendo doce de ir pro quarto porque eu sabia, eu sabia, que você ia me fuder. Literal e metaforicamente. Mas o que você fez, foi amor e eu fiquei tão atordoada que canalhamente vesti a roupa rápido e fui em busca de um cigarro e de um abrigo. Era porque eu não podia ficar mais daquele jeito, tão nua e tão brega e tão vermelha e tão sóbria.
Me flagrei sentada num banheiro estranho com a cabeça entre os joelhos tentando parar de tremer para logo depois ensaiar na frente do espelho meu imbecil ar blasé.
Mas não adiantou. Eu sou a porra de uma farsa, pensei enquanto me aconchegava no seu peito e descansava de mim naquela rede tão branca e tão porto e tão firme e tão certa. Você tem cara de menina de dezesseis anos com o primeiro namorado, você riu e eu disse que desde menina eu não era menina. E era verdade.
Até hoje.

9 comentários:

Luciana Nepomuceno disse...

Puta que pariu (e eu nunca digo palavrão) vocês aí, da web, querem parar de me desnudar? Não basta o Thiago, agora tu, minha amada?
" eu disse que desde menina eu não era menina. E era verdade.Até hoje." mais eu só se fosse em carne e não em letras.
Lindo, lindo texto, amiga. Lindo mesmo. Não há tantas com coragem pra dizer. E as que tem coragem nem sempre têm as palavras e as que tem as palavras muitas vezes não t~em a coragem e ainda tem as que tem coragem e letras mas não as histórias.
Perfeita conjugação. Ele faz amor, eu me estrepo. Bjs.

Luciana Nepomuceno disse...

PS. E ainda tem Adele...descola uma gilette pra mim?

Menina no Sotão disse...

Nos últimos dias as pessoas tem me deixado muda. Mas a pele anda gritando e agora quer rasgar a fantasia. isso não se faz...

bacio

caso.me.esqueçam disse...

uuuuhh, super post! x°

Leonardo Xavier disse...

Eu tenho que concordar com a borboleta, o texto ficou belíssimo.

^^

Marcantonio disse...

!!! Já disseram "puta que pariu!" Que mais eu poderia dizer pra expressar este meu pasmo, ô artista contemporânea cool?

Extraordinário!

Beijo.

Fred Caju disse...

Fazia tempo que não lia tanta intensiadade por aqui. Massa mesmo!

Alexandre Henrique disse...

Realmente intenso . Concordo com cada palavra da Borboletas nos Olhos. Poxa.

Renata Lima disse...

"...tentando parar de tremer para logo depois ensaiar na frente do espelho meu imbecil ar blasé.
Mas não adiantou. Eu sou a porra de uma farsa..."
Como disse a Lu, vc desnudou meus sentimentos.
Lindo texto.

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