sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Desmoronamentos

Ontem às três da manhã mandei uma mensagem de celular para J. que dizia: “Eu acho que estou desabando. E depois de tantas reconstruções de mim mesma, os alicerces estão comprometidos.” Repeti a mensagem para Lú, com um adendo mais ou menos assim: “Não aguento mais artes. Penso em tentar Odonto, Direito ou sete anos no Tibet, o que você acha?”.

Entre dramas e dramas, a verdade é que estou cansada de verdade. Produzir um trabalho artístico com embasamento e conhecimento teórico, poética linear e clareza de propósito exige de você um mergulhar em águas muitas vezes profundas demais. Voltar à tona e escutar que deve tentar de novo e de novo e de novo, simplesmente toma todas as suas forças.

Desde que comecei o curso que faço agora mudei muitas vezes de direção por conta do convívio com a amiga-mestra. Ela, além de genial, também é minha orientadora. Até aí tudo bem. Só que nesse percurso, vi muitas pessoas com trabalhos medíocres que nunca escutaram ser necessário recomeçar, refazer, redimensionar, repensar. Outras vezes uma solução inteligente era repetida até a exaustão e considerada brilhante mesmo assim. Sempre pensei ser um privilégio participar da vida da amiga-mestra, escutar suas pérolas de sabedoria, ter acesso á sua biblioteca e sua vida, trabalhar e rir com ela. Mas ontem, depois de tentar umas impressões de uns trabalhos em fotografia da minha última série, chamada “algo escrito”, que é meu projeto artístico final e escutar que estas não serviam, o caminho não era esse ainda, eu simplesmente me dei por derrotada.

Não sei onde termina o processo de escutar orientações e ligar a tecla do ctrl+alt+foda-se. Talvez esse seja o meu problema. Talvez eu realmente não seja boa. Não sei... não sei... o negócio é que isso se repete em minha vida again e não só com a amiga-mestra. A grande maioria das pessoas que me cercam simplesmente adoram dar pitacos e elaborar teorias sobre o que devo fazer, produzir, viver, negar. Eu sou uma eterna promessa a ser cumprida e isso parece ter o efeito de fazer com os que convivem comigo, se sintam no direito de exigir sempre mais e mais e mais. Ninguém pergunta o que estou fazendo, o que estou querendo, o que estou sentindo. Eu sempre, para estas pessoas, acordo tarde demais, faço sempre menos do que posso, devo ou necessito.

E cansei, cansei, cansei...

Para vocês, então, em homenagem a essa exaustão, disponibilizo antes de destruir, alguns destes trabalhos, ele tratam de literatura, cartas, palavras, corpo, entre outras coisas. Blogs também. E sim, meu nome completo é Raquel Stanick. E eu sou uma viciada em desmoronamentos.


Título: Uma rosa para Mariana II

Técnica: Fotografia digital

Dimensões: 20x25

Ano: 2010


Título: Uma rosa para Mariana I

Técnica: Fotografia digital

Dimensões: 20x25

Ano: 2010


OBS: Esse trabalho trata do livro Cartas Portuguesas de Mariana Alcoforado. Escrevi uma parte da primeira carta de amor deste em pétalas de rosas (secas) e fotografei.

Título: S/ Título

Técnica: Fotografia digital

Dimensões: 20x25

Ano: 2010


Título: S/ Título

Técnica: Fotografia digital

Dimensões: 20x25

Ano: 2010


OBS: Estes trabalhos são uma brincadeira com as palavras que são inseridas digitalmente dentro de minhas fotografias, formando quase pequeninas poesias concretas.

6 comentários:

Leonardo Xavier disse...

Eu penso que se você se sente feliz com o trabalho eu acho que você não deveria destruí-los. Eu não sou artista nem nada, mas me parecem lindos.

Eu penso que se você sente que a arte do jeito que está condiz com a sua verdade, porque você não tenta falar isso para amiga-mestra?

beijos e fica bem

Luciana Nepomuceno disse...

Dá pra mim? Não ouse destruir nada, nadinha da Raquel. Nenhum pedacinho, tá? Nem a parte viciada em desmoronamentos. Nem a que acorda precisando de um café. Nem a que cuida. Nem a que ri. Nem a que chora. Nem a que perde sapatos das amigas. Nem a que joga sinuca. Nada, nadinha. E este povo todo que dá pitaco, deve ser porque te ama e sabe que você pode sempre mais. Mas o mode foda-se é válido porque poder mais não quer dizer que não se está dando o bastante. Love you.

Caminhante disse...

Eu sou a favor de você guardar. Para um futuro trabalho, que sabe "Desmoronamentos".

Marcantonio disse...

Não destrua! (A coisa tá ficando séria por aqui). O seu texto é muito bom. Bem vinda ao clube. Essas contradições que você mencionou são reais. Há muita banalidade que a gente não consegue digerir. E arte, arte mesmo, não traz compensações, mas desafios internos, nesse processo que você tão bem descreveu. Sou artista plástico e sou autodidata. Mas não é exatamente por isso que acho que arte é coisa muito séria pra se restringir à academia. Quem quiser que a frequente. Mas que a arte contemporânea virou um um academicismo não há dúvida. Certa vez ouvi o artista Charles Watson dizer orgulhoso que não estava mais produzindo arte, agora ele produzia pessoas, seus alunos, seus orientandos. Porra! Que vaidade! Então ele era o autor por trás dos "autores". Realmente é duro ficar na mão de professores, curadores, críticos, galeristas e outras dores. Antes eu tivesse feito um curso qualquer, se a questão fosse só ganhar a vida ou fazer "sucesso". Seria menos angustiante, mas, artistas não se formam, desertam de si ou não.

Gostei dos trabalhos. Eles estão na contramão do que Magritte fez com o cachimbo, com se revelassem que a dimensão poética da imagem não é suficiente, que pode ser potencializada por outros signos. Aliás, o que você fez com a imagem, a amiga-mestra fez com o seu trabalho: arte, não-arte, suficiente, insuficiente, é isso, não é isso... De repente o seu instinto pode funcionar como contenção de encostas.

Beijo.

Ps. O cenário da última foto me parece familiar... Rs.

M.W. (@daconito) disse...

Perfeição!!! *-*
Pare, respire e verá q faz bem o q faz.

=*

Lília disse...

Arte pra mim é o que nos toca, independente de conceito e acho que vc conseguiu atingir a perfeição em todos eles. Seria incapaz de dizer qual gostei mais. Lindos, profundos, são vc ali em cada foto.

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