terça-feira, 27 de julho de 2010

Levanto a mão.



“Em que você fica pensando enquanto vê uma paciente se desestruturar na sua frente?”

Muitas vezes durante minhas sessões de terapia enxergava meu desespero no silêncio que se seguia à uma crise convulsiva de choro, diante de João Carlos. Sim, meu terapeuta chama-se João Carlos. Uma sensação parecida me tomou essa manhã, quando vi a ausência total de comentários diante do meu surto-descontrol de ontem. Porque realmente, porra, como comentar sobre o desespero e o medo?
Eu mesma, diante de um texto daqueles, fecharia blog com um clique rápido de mouse e pensaria duas vezes antes de voltar lá novamente. E essa vontade, eu a tenho agora, não nego. A tentação de apagar aquilo como se fosse mesmo simples assim. Mas tem alguma coisa mudando novamente dentro de mim, que simplesmente me impede de desviar os olhos de tanta raiva, de tanta mágoa, de tanta coisa que fingi alegremente e achando que seria de forma gratuita, não estar aqui dentro. Mas está. Principalmente essa bosta de sensação de impotência diante das atitudes alheias que me machucaram. Das que machucam.
Vejam só que novidade, descobri que não posso simplesmente controlar tudo. Grande merda de descoberta, não? Que imbecil não sabe disso? Levanto a mão. Eu.
Ontem, que já era hoje, dormi pouco, correndo atrás dos meus pensamentos como um cachorro atrás do próprio rabo. Previ rotas de fuga, desenvolvi estratégias de evasão, tudo em vão. Porque tem como fugir de nós mesmos sem acabar por virar uma invenção de gente, algo apenas levemente semelhante a um ser humano de verdade?
Assumo ter achado que seria simples estar de volta aqui, retornar como de uma viagem breve à esta mulher que decide seus caminhos sozinha. Que enfrenta tudo com coragem. Achei mesmo que seria indolor e sem grandes dificuldades. Ah, que boba que eu fui.
Porque a vida não vem com manual de instruções e num dia qualquer você se flagra num momento em que simplesmente não sabe o que fazer.
E o que aconteceu para desencadear tudo isso, porra?

Estou apaixonada pelo impacto da vida, por um tiro certeiro e bem mirado, pelo arrebatamento provocado pelo descuido das minhas defesas.”
Divã- Martha Medeiros

3 comentários:

Luciana Nepomuceno disse...

Uia, basta a Companhia Elétrica nos privar de um pouco de energia e já rola esta confusão toda? Amiga, não se anime, não tem perigo de eu fugir da raia. Estou aqui pro que der e vier (e pra dar e ir também que eu não sou de ferro).
E, se você quer mesmo saber, quando eu tinha um paciente se desestruturando na minha frente eu pensava quais são so alicerces dessa estrutura? Pois é daí que se recomeçam os trabalhos. E, benhê, algguém que é capaz de se fazer amar e admirar assim pode construir até edifício se quiser. Mas, eu, se fosse você, fazia a opção por um loft acolhedor ou uma casa chique estilo bangalô ou mesmo um duplex claro e arejado. Pronto, viajei.

Caminhante disse...

Eu sei que é sempre frustrante não encontrar comentário nenhum. Mas às vezes eles são apenas um respeitoso silêncio.

(Mais uma utilidade dos Google Analytics. Mesmo sem comentários, a gente percebe que o blog nunca está vazio)

Leonardo Xavier disse...

"Vejam só que novidade, descobri que não posso simplesmente controlar tudo. Grande merda de descoberta, não?"

Ah S. saber disse todo mundo sabe, difícil é encontrar alguém que aceite essa idéia de maneira plena e sem que isso a perturbe.

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