quarta-feira, 19 de maio de 2010

Baixinho

Minha mãe é um docinho. Desde que estou aqui ela sempre tem me acordado com café-da-manhã pronto e histórias engraçadas sobre tudo. Aos 65 anos parece estar ligada na tomada, fazendo sempre dez coisas ao mesmo tempo e chega a ser cansativo vê-la indo de lá para cá passando pano na casa e falando ao telefone ao mesmo tempo. O tal pano nunca limpa de fato nada, mas espalha a sujeira de um modo, digamos, mais uniforme. Não preciso nem dizer que a casa é um tanto quanto caótica.
De alguma forma ela conseguiu se adaptar maravilhosamente nesta cidade estranha, apesar de ser brigada com todos os nossos vizinhos de rua. Essa mulher intelectualizada e sozinha criou do nada um jardim orgulhoso e três maravilhoso cachorros, motivo de alegria e muito, muito stress. Mas isso não quer dizer nada, uma vez que ela se estressa com absolutamente tudo. Por nunca ter aprendido a cozinhar direito, uma das minhas piadas preferidas era que ao vir passar uns dias com ela, eu sempre emagrecia porque nossa dieta era basicamente composta de papoula e rosas amarelas.
Mas uma das coisas mais divertidas nesta nossa casa branca é o jardineiro que a ajuda em suas intenções inglesas. Baixinho (o apelido do dito-cujo) parece um gnomo e hoje pela manhã me encarou da porta do meu quarto com um riso no rosto e um discurso ensaiado. Eu de camisola e ainda remelenta escutei seu texto, que foi mais ou menos esse:
- Minha fia, agüente pedindo ao senhor Jesus ajuda e força e num chore que tudo tem seu tempo. Ocê é jovem e formosa e o que é seu há de chegar.
Em choque, balancei a cabeça concordante e juro, quase caí em um pranto confuso. Mas comecei a rir quando, momentos depois, escutei a briga dos dois, minha Mãe e Baixinho sobre a invasão do segundo à minha depressão matinal. Entre outras coisas ela o chamou de bucho de piaba e ele a chamou de chata dos infernos.
Tédio não é, em absoluto, a ordem do dia nessa minha nova morada.

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