sábado, 22 de maio de 2010

Amor

Tenho um amigo de outros carnavais que reencontrei dia desses. Ele também está saindo de um casamento e ontem me chamou para um jantar na casa dele. Apesar de morta de sono e de cansaço, e de morar num fim do mundo esquisito onde os ônibus só passam até as oito da noite, coloquei um vestido lindinho, chamei um táxi e fui, já que com certeza as gargalhadas seriam fartas.
Fiz bem, os outros convidados eram interessantes, a cerveja gelada, a comida uma delícia, a música perfeita (isso inclui Gretchen) e as piadas politicamente incorretas. Acabou que bebemos demais e o amigo, impossibilitado de me deixar em casa, me convidou para dormir na casa dele. Topei. Cavalheiro que é, ofereceu-me sua cama e propôs dormir na sala. Neguei e bati na cama ao meu lado convidando-o para partilharmos conforto.
Esse seria o momento em que nos descobriríamos apaixonados. E foi. Por nós mesmos. Novamente. Conversamos horrores antes de dormir, trocamos confidências a respeito de quem queríamos na cama no lugar um do outro (ele uma amiga minha e eu um amigo dele) e algumas gargalhadas depois eu me dei conta que depois de muito, muito tempo eu me via interagindo com as pessoas e gostava do que via. E do que sentia.
Eu não estava mais assustada ou bêbada demais ou com raiva e bebendo por isso ou sendo controlada por olhares acusadores ou querendo ser conveniente ou todas as opções anteriores juntas e não necessariamente nesta ordem. Era só eu. Novamente. E vejam que surpresa, as pessoas que partilharam (adoro essa palavra) comigo da noite de ontem, realmente pareceram gostar de mim. Ou ao menos, pegaram meu celular, me convidaram para mil coisas, declaram amizade eterna, enquanto eu controlava a vontade de me olhar no espelho para checar se algo poderia me caracterizar como uma aberração que precisava ser mostrada em público.
Resolvi relaxar e aproveitar quando notei que ninguém estava ainda tão bêbado e que aquelas realmente eram pessoas legais e eu estava sendo neurótica por costume. Os anos em que passei escutando constantemente o quanto eu era inadequada, quase me fizeram esquecer que eu (às vezes) consigo animar qualquer festa e que sim, Meu Deus, eu ainda sou bonita e oh! Meu vestido está no comprimento exato da minha vontade. Acordei com um bilhete do amigo, que tinha ido passar o dia com os filhos, pedindo que ficasse a vontade, assaltasse a geladeira se sentisse fome e me declarando seu amor eterno. Não assaltei a geladeira, e em jejum voltei para casa saboreando um amor imenso. Por mim mesma.

4 comentários:

Caminhante disse...

Que tudo, hein? Fiquei feliz por você. =)

Luciana Nepomuceno disse...

1. Eu sou legal (dizem)
2. Eu nem te conheço de ver o tamanho (in)adequado do vestido mas...
3. Eu gosto bastante de você (não, não é uma frase solta, eu realmente acredito nas idéias de Vigotsky de que somos o que fazemos e fazemos o que somos dialeticamente, logo, se gosto tanto tanto do seu blog, gosto de você).
4. Vou dormir que meia noite ao invés de virar abóbora, como seria de bom tom, fico é me derramando em declarações nos blogs alheios...

Belos e Malvados disse...

"Os anos em que passei escutando constantemente o quanto eu era inadequada..." Olha, me vi completamente nesta frase (tb passei por uma separação), mas graças a Deus e a tanta coisa, não deixo mais ninguém ser a minha medida.
Fico feliz por você estar bem. Abços

S. disse...

Amoras, que comentários tão, tão lindos. Amo muito tudo isso. Abracinhos felizes e saltitantes.

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