sábado, 9 de julho de 2011

Escreva Lola, escreva!

Sempre leio o blog dela e nem sei porque ele não está aí ao lado, entre meus preferidos. A questão é que dentre muitos posts que me fizeram pensar e mudar paradigmas, além de sempre renderem excelentes motes para discussões entre minhas amigas, esse texto (e que nem foi escrito por ela), me tocou sobremaneira. Então o coloco aqui para vocês. Porque eu queria ter escrito algo assim, faço dela as minhas palavras...

"Marcela é advogada em Uberaba, MG, e não se conforma que existam mulheres machistas. Como ela me disse por email: “Não apenas as mais velhas ou as que tiveram menos acesso aos estudos, mas as minhas colegas juristas, as jovens que estudaram em boas escolas, mas continuam reproduzindo o machismo. Sei que somos doutrinadas pelo machismo desde criança, mas eu não consigo entender o motivo pelo qual tantas mulheres olham para as outras como as 'putas', as que 'merecem apanha', as 'golpistas'. Outra coisa muito desgastante para mim são as mulheres que têm vergonha do feminismo, que acham que é coisa de 'mulher-macho', de mulher não-feminina. Por isso escrevi esse texto. Não para culpar as mulhers pela violência doméstica, mas para tentar fazer com que elas vejam que não existem 'categorias' de mulheres, que estamos todas no mesmo barco e que precisamos nos apoiar, precisamos nos apropriar de nossos desejos e de nossa individualidade. Precisamos reagir.” Dá pra discordar dela? Fiquem com seu guest post panfletário.

Temos Lei Maria da Penha, temos Constituição Cidadã, temos Delegacia de Mulheres, temos a Lei do Divórcio, temos o direito ao grito, mas, como já disse Drummond: "As leis não bastam. Os lírios não nascem das leis." E é por isso que, infelizmente, ainda temos que lidar com a avassaladora realidade da violência doméstica: ainda silenciosa, ainda abafada, ainda cruel, ainda absurda, ainda escandalosamente real.
Mas, o que vou dizer agora, gostaria de não precisar dizer: "Mulheres, se vocês continuarem alimentando o machismo, se continuarem culpando as vítimas e desculpando os agressores, a violência doméstica nunca vai ter fim. Nunca!"
A violência contra a mulher RESISTE e insiste em continuar existindo, ainda que nos garantam que "homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações nos termos desta Constituição". E é por isso que o feminismo ainda é necessário.
O agressor é sempre covarde: só perde a voz quando as mulheres se cansam de alimentar ilusões e viram a mesa.
Então, mulheres, por favor: Virem a mesa!
Neste momento, em algum lugar do mundo, uma menina é adestrada (sutilmente ou com brutalidade) para renegar seus direitos, sua sexualidade, seus desejos, seus sonhos e sua individualidade. É ensinada a se sentir inferior. Aprende a olhar para as outras mulheres como concorrentes, inimigas perigosas que querem tomar seu homem e que aguardam a primeira oportunidade para, Evas ardilosas que são, darem o golpe da maçã, o golpe da barriga, o golpe do baú, o golpe.... E a menina, em algum lugar do mundo, neste exato momento, aprende a não confiar em mulheres. Aprende a não confiar em si mesma.
Neste momento, em algum lugar do mundo, uma mulher reproduz e alimenta ideias machistas, na ânsia de ser valorizada pelos "senhores" e de ser considerada especial, "mulher honesta", "moça de família", "mulher para casar", mulher que não precisa apanhar. Mas não tem como uma mulher odiar as "outras" mulheres sem se odiar também... Não tem como uma "pura" crucificar as "impuras" e achar que algumas até merecem apanhar, sem correr o risco de, um dia, ser a "puta da vez". E, não se enganem: agressor nenhum precisa de motivo para bater, humilhar, estuprar, matar...E, não se iludam: qualquer uma pode ser a "puta da vez".Tem até um poema do José Paulo Paes que se encaixa nisso:

A torneira seca.
Mas, pior: a falta de sede.

A luz apagada.
Mas, pior: o gosto do escuro.

A porta fechada.
Mas, pior: a chave por dentro.

Neste momento, em algum lugar do mundo, uma mulher agredida se cala e se curva e se ajoelha e aceita e se submete e se culpa, porque acreditou na ilusão de que, na ausência de um homem, ela nem é GENTE.Mas, neste momento, em algum lugar do mundo, uma mulher agredida ACORDA e simplesmente se vê: é um ser humano! E está viva, e é livre, e é plena. E ela deixa de se submeter e reage e pede ajuda e exerce o seu direito ao grito e grita e acha pouco o afago mínimo que recebe quando se curva e, então, se levanta e luta e exige direitos iguais e exige homens que respeitem os direitos iguais e só quer estar com homens que saibam que ela é tão PESSOA quanto eles e descobre a felicidade de viver sem amarras e sem ser vítima e sem ser escrava e quer dividir essa alegria interminável e deseja que todas as mulheres do mundo saibam que são GENTE e... E esta é a beleza do feminismo: ser a semente da ideia subversiva de que somos pessoas inteiras, somos senhoras de nós mesmas. Solteiras, casadas, médicas, costureiras, advogadas, empregadas domésticas, professoras, donas de casa, doutoras, estudantes, analfabetas, negras, pardas, brancas, amarelas, gordas, magras, idosas, jovens, heterossexuais, lésbicas, putas ou freiras -- nós TODAS somos donas dos nossos corpos e dos nossos destinos. As conquistas são lentas, a semente demoraaaaaaaaaaaaa para germinar, mas quando ela brota... ah, quando ela brota! Nunca mais a gente para de florescer."

3 comentários:

Leonardo Xavier disse...

Eu acho que o feminismo é um causa válida e concordo com tudo quanto a sua convidada fala, mas eu acho que tem garotas que confundem ser feminista com ser uma supremacista feminina... aí complica.

Alexandre Henrique disse...

Concordo com a colega, na verdade niguém gosta de apanhar, a não ser que a pessoa seja masoquista procurando sadismo, que é uma situação bem particular. Feminismo é válido sim, principalmente nos lugares aonde o conhecimento não existe. Vale apena lembrar que uma mulher é tão superior quanto o homem que ama em seu íntimo, e um homem é tão superior quanto a mulher que ama em seu íntimo. Não existe amor? Até mesmo os cafetões e as putas amam alguém. Amor existe em tudo, até aonde não existe.

Menina no Sotão disse...

Eu acho lamentável que ainda exista o machismo, mas também não gosto do feminismo. Acho que tenho problemas com "ismos". Enfim, fui educada por duas mulheres incríveis que me diziam que viver é uma dança e para dançar precisar de dois ou mais. Em casa não havia imposições, mas sei que é um caso a parte. Minha mãe certa vez ralhou com uma senhora que dizia ao seu filho "homem não chora, engole esse choro". Eu vi tantas vezes o meu pai chorar no colo de minha mãe e era uma cena tão linda. Vi minha mãe tirar-lhe os calçados depois de um dia difícil. Vi meu pai carregá-la nos braços depois de adormecer no sofá. Vi os dois na cozinha preparando refeições e vi que não importa se homem ou mulher porque na verdade quando se esta junto são duas pessoas e é preciso aprender a caminhar juntas, preservado as diferenças e as semelhanças.
Sei lá, quando vejo os ismos por aí me parece tudo muito estranho e dá vontade de fechar a porta.

bacio

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...