sexta-feira, 11 de março de 2011

Síndrome

Numa turma de 35 alunos do sexto ano, para mim a mais difícil de trabalhar, está ele, esse meu aluno.

F. tem síndrome de Asperger. Soube-o pela diretora assim que entrei na escola.

Estava quase desistindo de tentar ensiná-lo algo, já que sempre me pareceu que seu entendimento sobre os conceitos, tarefas e exercícios era tão pessoal quanto... pessoal.

Para quem não sabe o portador da síndrome tem uma grande dificuldade com as abstrações... imagine então lecionar artes visuais para alguém assim. A loucura me aguarda, imaginava sempre depois de cada aula.

Também me preparei para manter um distanciamento que o deixasse... digamos... confortável, já que além da interpretação muito literal da linguagem e a dificuldade com mudanças, outros dos sintomas da tal síndrome são a dificuldade de interação social e a falta de empatia. E poxa, ele parecia mesmo não ir muito com minha cara. Mesmo.

Hoje, depois de dez aulas seguidas, a turma de F. era a última antes que eu usasse o resto das minhas forças para me arrastar de volta para casa e mergulhar no sono dos destruídos. Entrei, comecei uma explicação qualquer sobre fundamentos da linguagem visual, quando ele levanta de sua cadeira e me abraça, dizendo:

- Professora, senti tanto sua falta esses dias...

Mantive a pose, tentei ajudá-lo com as atividades assim como aos outros. Mas antes de ir embora, chorei escondido e molhado no banheiro dos professores.

F. me devolveu.

5 comentários:

Menina no Sotão disse...

Bom saber que algumas pessoas ainda são capazes de nos surpreender.
Você chorou no banheiro dos professores e eu aqui diante da tela.rs
bacio carissima e bom fim de semana

Leonardo Xavier disse...

Síndrome de Asperger me lembra de Mary and Max...

Pow, espero que vocês consigam ficar amigos e que você consiga ajudar o seu aluno a superar a dificuldade.

^^

Marcantonio disse...

Humano, não é? Coisa que a gente costuma esquecer por aí nos confrontos metálicos do dia, ou então bem escondido no núcleo da célula mais primitiva do nosso pâncreas, ou baço, amedrontados e descrentes da essência concreta de um abraço em nada abstrato.

Beijo.

Rafa disse...

E não é que este mundão árido, às vezes, se abre em ternas e delicadas flores?

Bj

S. disse...

ô

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