Ontem vaguei pelas lojas Americanas atrás de uma agenda pensando na ressaca que na quarta tinha me impedido de resolver as pendências que eu, munida de boas intenções tinha me comprometido a assassinar sem piedade.
Para apaziguar minha culpa, E. tinha ido trabalhar e me deixara trancada em sua casa. Eu tinha pois, me esparramado no sofá da amiga e assistido a sessão da tarde. No entanto aquela irritante vozinha repetia que acordar três da tarde não era um bom augúrio para as mudanças que eu tinha apregoado em alto e bom som aos amigos entre muitas cervejas e risadas.
Novamente tinha mentido para minha mãe e inventado um trabalho de urgência que me faria dormir fora de casa e enfim, recuperada apesar das olheiras, exterminar com aquelas obrigações chatas no dia seguinte.
Enfim, estava eu entre prateleiras da sessão de papelaria, depois de bancos e burocracias, quando encontro não um, mas dois livros de Marian Keyes em promoção. Comprei-os junto com um sabonete líquido que prometia fazer da minha pele uma seda e muito feliz emendei com um lauto almoço na praça de alimentação do shopping. Peguei um táxi (porque eu merecia) e cheguei em casa. Deitei na cama e abri um dos livros que se chama Férias! E me preparei para o entorpecimento emocional que só a sub-literatura é capaz de causar.
Grande erro!
As férias do tal livro eram passadas pela personagem numa clínica de reabilitação, e apesar do humor irlandês que me fez adotar essa escritora como uma das minhas preferidas, chorei como uma criancinha ao me reconhecer em tantos sentimentos e vergonhas e negativas e necessidade de compensações imediatas depois das frustrações ou obrigações (meus sais, o táxi e o almoço!) e finalmente a redenção (não esqueçam: sub-literatura).
Entre chocada e envergonhada tive enfim que admitir o que em oito anos de terapia não consegui. Sim, eu tenho problemas (e sérios) com bebida ou quaisquer outras substâncias que possam simplesmente fazer com que eu pare de sentir. Sim, eu me acho uma merda tão grande que procuro qualquer um que não me queira (ou queira da forma errada) para reafirmar isso para mim. Sim, eu estou cansada de não lembrar da noite anterior nem de saber de onde vieram as manchas roxas. Da culpa ou do alívio em faltar o trabalho por estar de ressaca.
Cristo Rei, eu sou uma alcoólatra (?!?!?!)
Como caralho eu vou reconhecer e administrar as coisas que doem de verdade dentro de mim? Os erros? Estou exagerando? É TPM?
Só o que sei é que estou com medo de verdade.
É ou não é um excelente começo de férias para esta que vos escreve?
3 comentários:
Você se ofenderia se eu dissesse que fazer terapia ajuda? Falo isso porque já fiz muita e ainda faço. Porque a gente resolve as coisas e nem sempre tem culhões de manter ou não sabe direito quais são os passos. E tem de graça em faculdades de psicologia.
Geralmente o pessoal que fala de terapia aparenta achar legal. Eu nunca consegui me imaginar conversando com um estranho sobre as coisas que me afligem.
Adoro Marian Keyes.O Férias! acaba sendo um romance autobiográfico dela, já que passou por maus bocados por causa de álcool e outras drogas, ficou por muito tempo em negação, até começar a escrever.
Foi o primeiro livro dela que eu li e também gostei muito.
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