domingo, 1 de agosto de 2010

Pessoas que valem

Sou sim, uma mulher orgulhosa. E fiquei envergonhada quando recebi um e-mail que esclarecia falta e má-vontade. Resposta do filósofo. E quando não recebi um certo telefonema. Do que me era querido.
Mas o amigo amado me liga. Quero te ver. Saudades suadas. Como negar? Fui. Dançamos horrores e encontrei muitos cães, que o inferno aqui é pouco para tanto. Apesar do amor que me contagia quando estou com R. (o amigo amado), não, eu não estava bem.
Chego em casa e depois de conversar com a amiga que no MSN tenta me colocar para cima, mergulho na anestesia de um livro imbecil. Continuo me sentindo uma merda. Uma enorme e grande bosta flutuando num mar de desprezo alheio.
Para piorar, lembro o ex-marido ligando e gritando, assim que nos separamos. E afirmando que qualquer homem que se aproximasse de mim só iria querer saber de sexo. Lembro que eu disse: Amém. Cuidado com o que pedes, já dizia vovó. Mulher sábia, que Deus a tenha.
Durmo quase onze da manhã. Mastigando auto-comiseração como chiclete.
E estou embaixo dos lençóis, às quatro da tarde, quando o socorro na forma de mãe chega. Me traz flores do seu jardim, que observo agora enquanto escrevo. Sento na varanda e conto meus dramas. Falo do cansaço e do medo de que afinal as pessoas estejam certas e eu errada. Que eu tenha mesmo que mudar, conter, parar, diminuir, para me enquadrar.
Ela lembra-me que nem os quinze anos que passei casada conseguiram fazê-lo, nem os falatórios que acompanharam-me durante minha adolescência rebelde. Agora? Ela pergunta. Talvez eu esteja ficando velha, eu afirmo. Ela diagnostica fome e me obriga a sair de casa. Sopa na cafeteria que é da esposa . Amor.
Já estou contando das coisas pequeninas que me fizeram bem. Um e-mail delicado do namorado. As risadas de ontem, com o amigo amado, quando o enxergo na fila do caixa. Não morre mais. Corremos para os braços um do outro. Ele fala de ontem e de quando um antigo amor meu, amigo nosso em comum, lhe perguntou o que existia entre nós. Ele ri quando conta-me da sua afirmação de amor apaixonado por minha pessoa. Gargalho. Amo. Muito.
O apresento à minha mãe e eles se conversam, até que ele se vai com seus miojos em sacolas e filho nos braços.
Minha mãe me olha e diz:- Por essas pessoas, S., se sofre. São essas pessoas, S., que valem amor.
Mulher sábia.

Um comentário:

Luciana Nepomuceno disse...

Seremos nossas mães um dia? Espero que sim, gosto da sua, gosto da minha. Gosto do seu amigo amado pelo bem que ele lhe faz (e tenho ciúme dele pelo mesmo motivo). Os beijos carinhosos de sempre

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