sexta-feira, 23 de julho de 2010

Jumper

“Pular de precipício em precipício, ossos do ofício...”
Talvez tenha sido a conversa, já que hoje fui para uma exposição com três mulheres com no mínimo com dez anos a mais que eu. Uma delas é a amiga-mestra e só há conforto em sua presença.
Vinho durante a exposição e eu recomendo os bares do depois.
No primeiro, a música não era legal, no segundo havia tristeza demais. E eu sem saber.
Quanto me deram vinte e cinco anos, ví a ironia em olhos que se achavam tão mais sábios que os meus. Alegria demais, diagnosticou a amiga-mestra. E eu quase calando.
Então enxergo um amigo numa mesa ao lado. Levanto animada e ele mesmo acompanhado, me abraça com força. Pouco tempo depois, tendo se despedido da sua nova paixão, senta na nossa mesa. E elas me olhando novamente.
Peço para o amigo me deixar em casa. Depois de concordar, o que faz com que minhas acompanhantes se desobriguem de mim, tomamos mais uma cerveja e conversamos e rimos. Muito.
Eu sei que havia desejo. Porque além de tudo, de todo o proibido que sempre nos cercou (e isso é outra história), eu estava linda. E sei que ele tem entrado vez ou outra no meu orkut e tantas outras coisas e detalhes nas últimas semanas e encontros casuais. Sei também e principalmente que depois dele fingir caminhos errados umas três vezes e de nossa conversa maravilhosa que rendeu mais por causa destes erros, eu podia convidá-lo para subir e fazer com que a noite me trouxesse mais fantasias e histórias e textos. Mas não quis. Não com ele. Não hoje. Não.
Porque eu sabia que a juventude do tal amigo seria apenas anestesia. E mais um precipício. E eu não queria pular.
Subi e só tinha tirado os brincos quando o celular toca. Um outro amigo tinha perdido as chaves de casa e é claro que podia dormir aqui. Chega e eu como um resto de brigadeiro enquanto me lamento e resmungo. Uma velha chata.
Agora o outro amigo ronca. Alto. E amanhã tem pedreiros e mais barulho.
Talvez pular tivesse sido o melhor. Mas sabe, é que foi tanta gente que não valeu a pena...

4 comentários:

Sempre querendo saber disse...

Gosto desse jeito de escrever,meio que diário.
De cara já gostei,mas vou dar mais uma fuçada.

Luciana Nepomuceno disse...

Como assim recomenda bares em que a música não é legal e tem tristeza demais????
Quanto ao precipício em questão e os problemas de vertigem, precisarei de mais elementos para a completa análise...

Caminhante disse...

Isso lá é amiga, murchando você? Eu aproveitava e tomava um banho de sal grosso.

Fred Caju disse...

Engraçado que lendo o texto vi uma metáfora inexistente (ou não): você fala em pular de precipícios, mas também fala em subir (ao apartamento?)... Lembre que não é só de pulos que vive um precipício, mas também de escaladas.

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