O jardim da minha avó, em Sábados ensolarados, se tornava o território de uma das minhas tias, a quarta das suas cinco filhas.
Ela estendia toalhas e dispunha frascos misteriosos na grama. E eu, brincando com a mangueira, observava encantada seus gestos langorosos e aqueles rituais de amor-próprio tão misteriosos. E quando só de calcinha, aquela mulher grande e sensual, raspava suas pernas com delicadeza, usando muita espuma e risos, eu desejava logo crescer para poder participar daquilo.
Um dia, depois de uma briga entre ela e minha avó, onde eu escutei pela primeira vez a palavra prostituta, minha tia está raspando as pernas e chorando e eu sento ao seu lado e a abraço. Depois de colocar o dedo sobre os lábios, indicando-me silêncio e segredo, ela me depila as pernas com cuidado.
Demorou muito tempo para eu entender o porquê.
3 comentários:
Lindo!
Aprendi a depilar cedo as pernas. Ainda estou aprendendo. Suas histórias são lindas e seu jeito de escrevê-las ainda mais.
Eu juro que eu acho fascinante o apego que as mulheres tem a esses ritos de passagem para a fase adulta. Eu mesmo, com toda a sinceridade do mundo, não tenho a mínima lembrança da primeira vez que me barbeei.
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